Domingo, 23 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 24 de maio de 2018
O alvo era o preço do diesel, mas, no caminho, a greve dos caminhoneiros acabou atingindo as principais estatais brasileiras: Petrobras e Eletrobras. As duas companhias vão ter de se esforçar muito para convencer investidores de que tudo continua como era antes.
A decisão da Petrobras de reduzir o preço do diesel em 10% e manter o valor do produto inalterado ao longo dos próximos 15 dias será um teste de confiança para o mercado. A reação ao anúncio — feito após o fechamento da Bolsa de São Paulo — foi rápida, e os recibos de ações da petroleira negociados em Nova York caíram mais de 10%.
Desde segunda-feira, os investidores acompanhavam com apreensão o desfecho da crise. Na avaliação do mercado financeiro, a nova política de preços da Petrobras, que entrou em vigor na metade do ano passado, é um dos pontos cruciais para a retomada de credibilidade da companhia. É também uma marca da gestão de Pedro Parente no comando da empresa. A companhia diz que após esse período retomará gradualmente sua política.
No fim das contas, a leitura é que, apesar da resistência, a companhia teve de ceder para evitar um caos ainda maior do que os transtornos que os brasileiros já enfrentaram na quarta-feira. Ainda não se sabe, porém, se o esforço dará resultado. Até o fim da noite de terça-feira, os grevistas prometiam manter os protestos.
Diante de uma crise como esta, que coloca em risco a operação cotidiana de empresas, o deslocamento de pessoas e a produção de riqueza no País, sempre é possível argumentar que o papel de uma empresa pública deve ser maior do que simplesmente seguir o sobe-e-desce das ações. O histórico de decisões equivocadas tomadas pela empresa no passado, porém, vai exigir uma dose extra de fé dos analistas e um esforço de convencimento maior do comando da companhia. O recado da empresa foi claro: a trégua nos preços por 15 dias visa a permitir que governo e caminhoneiros cheguem a um entendimento rápido. Não à toa, Parente se reúne com o presidente Michel Temer para discutir a crise dos combustíveis.
A Petrobras, porém, não foi a única a enfrentar problemas. A Eletrobras, que teve papel de coadjuvante nesta crise, viu suas ações despencarem mais de 11% na Bolsa. Sem margem para nada neste ano de eleições, o governo abriu mão de votar a MP (medida provisória) que abre caminho para a venda das distribuidoras deficitárias da Eletrobras em troca de apoio na Câmara para votar a reoneração da folha de pagamento. A MP pode parecer apenas mais uma das intermináveis tarefas previstas no longo cronograma de privatização da companhia, mas é, na verdade, um dos passos essenciais para atrair o interesse de investidores.
A decisão do governo coloca a Eletrobras numa corrida contra o tempo para ajustar a situação. O governo acena com um projeto de lei no lugar da MP, mas o prazo é apertado. Caso não consiga vender as distribuidoras este ano, a Eletrobras pode ter de arcar com uma conta de R$ 16,6 bilhões, que é o montante calculado para liquidar as empresas. Para muitos analistas, o resumo da ópera é que ficou mais difícil levar adiante a venda da Eletrobras. O presidente da companhia, Wilson Ferreira Júnior, viajou para Brasília a fim de discutir o caso com o Ministério de Minas e Energia. Resta saber se os esforços das duas empresas serão suficientes para convencer os investidores.