Há cerca de 3 semanas, quando fiz uma palestra, num curso de mestrado, da conhecida Universidade (Porto Alegre) sobre os pilares do Direito Coletivo do Trabalho (Sindicato, Negociação Coletiva e Greve), um aluno, bastante interessado, pediu-me uma opinião sobre o que ele chamou de Greve dos Transportes.
Respondi-lhe que, preliminarmente, os transportes não fazem (como a Saúde, a Educação etc, etc) greve. Quem faz greve são os trabalhadores empregados em uma empresa de transporte, normalmente depois de, através de seu sindicato, tentarem levar adiante, via negociação coletiva, a celebração de uma convenção coletiva, que valerá para toda categoria na área de competência do sindicato (quando apenas uma empresa negocia e chega a um entendimento que só a ela se aplicará, chama-se acordo coletivo). Quando a tentativa negocial não é exitosa, há ocasiões em que empregados apelam para a greve como forma de pressionar a empresa patronal.
Dada essa simples explicação – com exemplos múltiplos – senti que ficara claro, para os mestrandos, que a – “greve” de que começava a falar a mídia não tinha, no “molho”, salário, hora extra, férias, FGTS, regimes indenizatórios, aviso-prévio etc, logo, como na fábula do “lobo e do cordeiro”, a fera não tinha boca de cordeiro, olhos de cordeiro, voz de cordeiro, o que levou o cordeirinho, quando já estava numa situação indefensável, aperceber-se tardiamente da trapaça do lobo que queria e (ao que me recordo) iria devora-lo.
Lembrei-me, na ocasião, da sistemática de comunicação do regime nazista.
Goebbels, que seria o Ministro da Comunicação do Governo ditatorial de Adolfo Hitler, nunca escondeu o seu mantra operacional: “repetiremos, devidamente desvirtuada, umas cem mil vezes, uma mentira conveniente, dando-lhe toda a liturgia de veracidade que dela, ao final, ninguém duvidará: ela passará a ser uma verdade”.
E assim agindo fez o mundo acreditar, durante cerca de 15 anos, em mentiras (travestidas de verdade) e desacreditar nas verdades (contaminadas por mentiras).
Essa, aliás, a estratégia e a arma deletéria – ainda hoje tão utilizadas – por regimes ditatoriais de esquerda ou de direita (são vinhos da mesma pipa), de natureza populista, fabricando a sua (mentirosa) verdade que Orwell, em seu terrível e magnífico “1984”, tentou alertar e a grande maioria não acreditou e/ou não quis acreditar.
Aqui, ingenuamente (?) batizou-se de greve uma arregimentação em que cabiam tantos “líderes” quantos fossem o que quisessem sê-lo. Deixou-se que indevidamente – sem provar legalidade e, muito menos, legitimidade – negociassem em nome de quem nunca lhes dera mandato para tanto.
Reuniu-se, na base, o pequeno produtor rural, o dono de transporte escolar, os transportadores por conta própria (os legítimos – em menor número do que os se passavam por tal – lembrando que, só são os que não são e não tem empregados), grandes empresas transportadoras representadas por delegados profissionais etc. Se somou tudo isso com especialistas na arte de tumultuar, atacando o Poder constituído e gerando, em nome de um anarco sindicalismo, um ambiente de caos que foi (e é) o caldo de cultura que tanto lhes facilitava a confusão. Eram anarquistas (talvez) e se diziam contra o anarquismo. Atacavam o sindicalismo e se disseram habilitados para negociar por sindicatos até então desconhecidos (e até hoje com atestado de vida mais que duvidoso).
Enfim, agora que se começa a desmascarar esses “infiltrados”, é bom que se tenha plena consciência de que greve não era porque nenhum empregado reclamou de temas tipicamente trabalhistas como salário, jornada laboral, férias etc etc. Para ser greve, só faltou o empregador, o sindicato, o empregado e a reivindicação. Logo, tudo.
Para ser locaute também faltou tudo. O mesmo que precisa para se ter a greve, só que em direção invertida. Logo…
O lamentável é que o governo seja tão inconfiável, fraco e, por isso, tão frágil que se assusta (talvez consciente dos pecados que comete e cometeu) com o silvo da brisa na folhagem acreditando que é tormenta.
É hora de todos revisarem sua participação. É hora de punir-se os que tanto mal, tanto prejuízo e tanta intranquilidade trouxeram ao País. Não nos esqueçamos: os poderosos encontrarão (sempre encontram) o “caminho das pedras” que os levará a outra margem do rio onde recuperarão os prejuízos (?) ou – o que é mais provável – contarão os lucros que tiveram.
O que não pode ocorrer é a absolvição pelo esquecimento. A conta dos prejuízos não pode vir para quem menos tem e com mais arcaria.
As investigações policiais tem de nos revelar quem são, o quanto ganharam, os que, ficando nos bastidores, se beneficiaram da crise que inspiraram.
Ela continuará, viva e daninha, pendente da separação do joio e do trigo, enquanto os culpados pela distorção de um movimento que teria tudo para ser pacifico e legítimo, não forem identificados e condenados.