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A guerra da cloroquina

Decisão foi tomada em ação formalizada depois que o governo contratou influenciadores para ações de marketing na pandemia. (Foto: Reprodução)

Não dá ainda para dizer quem foi vitorioso na guerra da cloroquina. Por enquanto, quem se deu bem foi o glorioso Exército nacional, que ganhou uma grana preta fabricando o remédio. Dizem que agora está encalhado. A favor do governo deve-se assinalar que o maior garoto-propaganda do medicamento, mesmo tendo perdido um pouco da credibilidade – pegou a Covid – mantém a fé e redobra o ânimo.

De todo o modo, o prestígio do Exército, da Marinha e da Aeronáutica está em alta no Planalto Central. Tanto é assim que inovaram, criando o Ministério Militar da Saúde, cujo titular é o general de Divisão Eduardo Pazzuelo – general da ativa, sublinhe-se. O governo não cogita de nomear um médico para a chefia de alguma das forças armadas.

Os militares – Bolsonaro é militar – não confiam muito nos civis. Por exemplo, o ministro-chefe da Casa Civil é o general de três estrelas Walter Braga Netto. E o secretário-executivo da mesma Casa Civil é outro general, este, como é de bom tom na hierarquia, de duas estrelas, Sérgio José Pereira. Civil ali só a Casa.

A batalha da cloroquina não terminou, mas outra já está em curso na cena política do país. Agora, é a guerra da vacina. O governador de São Paulo, João Dória, apostou todas as fichas na vacina do laboratório chinês Sinovac Biotech, que está em fase de testagem (no Brasil) através do Instituto Butantã, do governo paulista.

Já o presidente Jair Bolsonaro disse que a vacina dele não é a “daquele outro país” (querendo se referir a China), mas a de Oxford, da indústria farmacêutica AstraZeneca. Bolsonaro tem andado calmo, mas às vezes é traído pela natureza inquieta: nos assuntos mais banais e nos mais relevantes (como é o caso da vacina) ele precisa ter um inimigo para dar combate.

Bolsonaro tem sempre à mão, para uso próprio ou exibição, a droga favorita, a cloroquina. Agora, diante dos seus seguidores, nas incursões pelo país, ele levanta a caixa ou cartela da cloroquina à maneira dos padres na Eucaristia. Já rezou essa missa duas vezes. Deve ser a parte do meio do nome (Messias) que às vezes ele incorpora.

É provável que a primeira-dama, Michelle, no mínimo por insistência do maridão, tenha tomado a cloroquina. Agora, deu positivo no teste do coronavírus e está infectada. De quem vocês acham que ela pegou? Na sexta-feira passada o próprio Bolsonaro teve de voltar a tomar antibiótico. A cloroquina não fez o serviço completo: estava curado mas não tanto. Ele alegou que permaneceu um mofo no pulmão. Esse “mofo” às vezes dá no cérebro.

O ministro da Ciência e Tecnologia, o astronauta Marcos Pontes, também foi castigado, digo, contagiado pelo vírus. Como lembram, ele andou fazendo propaganda de um vermífugo, o Anitta (nitazoxanida), que teria propriedades miraculosas na cura da Covid. Notem que ele é o ministro da Ciência. No caso dele o vermífugo somente debelou os vermes de sempre, mas não o novo coronavírus.

Em meio a tudo, o jornalista Alexandre Garcia, que nunca perde a viagem para defender o governo, em momento de tietagem explícita, disse que Bolsonaro é a comprovação científica da eficácia da cloroquina. Então tá.

titoguarniere@hotmail.com

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