Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Carlos Alberto Chiarelli | 8 de novembro de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Segundo as melhores fontes, Netanyahu alegou o que de fato ocorreu: que precisava empreender uma ação bélica imediata e contundente para, como governo, restaurar a confiança, momentaneamente perdida, ante o povo de Israel, face ao êxito transitório da ação terrorista do Hamas nos seus primeiros movimentos e o desacerto do seu governo, que não soubera impedir a ocorrência da operação terrorista.
Com a força aérea judaica e seus “caças”, velozes e de alto poder de fogo, enfrentando o grupo terrorista terrestre do Hamas, que usava drones como os únicos substitutivos, de uma evidente potência menor, ao tentar enfrentar a ilimitada e desigual batalha dos céus, na qual Israel aproveitou para, praticamente, como disse seu premier, “limpar os horizontes” onde, também o domínio de Israel, se completava em matéria de instrumental militar com modernos e poderosos foguetes terra/ar.
Nesse período, estando o Brasil na Presidência (rotativa, com mandato de dois meses, de cada um dos seus quinze integrantes) do Conselho de Segurança da ONU, tomou a iniciativa de apresentar moção de razoável força política (precisaria ter mais), propondo, num documento na mais qualificada linguagem diplomática, o “cessar fogo”, que se complementaria com medidas sanitárias (entre elas, também se incluiria, além de remédios, alimentos).
A Rússia havia apresentado, também perante o Conselho, moção de aparente similitude que, no entanto, afora as questões técnicas da guerra Israel versus árabes, era aproveitada para fazer um contundente ataque, responsabilizando Israel e os EUA pela deflagração da guerra.
A moção russa, sendo a mais antiga na apresentação, teve o direito de ser votada antes, obtendo apenas cinco votos; isto é, um terço do colégio eleitoral do Conselho. Sendo por isso, posto que ficara patente que só tinha apoiadores que constituíam um número minoritário, foi automaticamente rejeitada.
Seria votada a seguir a proposta brasileira, de muito maior amplitude, já que, na sua preparação técnico jurídico, fora inserida uma exposição de motivos que lhe facilitava a boa sustentação no debate de plenário. Obteve a manifestação de apoio de alguns dos grandes “sócios” do Conselho, como a França, a Inglaterra e até a China. Todos os três que teriam possibilidade de derrubá-la, se utilizassem o direito de veto que possuíam.
A proposta brasileira, equilibrada, de excelente “costura” diplomática, recebeu, quando votada, 12 votos favoráveis e apenas três contrários, o que a fez eleitoralmente majoritária por larga margem.
No entanto, tendo a sua tramitação, conduzida pelos rigores formais do regimento do Conselho, a eles teve de submeter-se e, por isso, foi condenada ao arquivamento, já que UM dos três votos contrários era o dos EUA, que detinha o poder desigual do veto.
Assim, o Brasil perdeu por 12 votos a favor e 3 contra.
Enquanto isso, o panorama externo passava a ter uma mudança: o Primeiro Ministro de Israel, aproveitando a situação militar de extrema preponderância das suas forças, não fez qualquer menção de aceitar a ideia de abrir espaço a negociação. Já trabalhara na ONU para que o Conselho não acolhesse as medidas de cessar fogo e, num passo surpreendente, num momento em que o Presidente dos EUA tomava atitude, ao visitar a região conflagrada de dar a ideia de que via com bons olhos a paralisação do combate, Netanyahu, ao contrário, fez saber que dera a ordem para que suas tropas de infantaria percorressem o deserto em direção a Gaza e agissem com objetivo de tomar conta do seu território, colocando-o sob a jurisdição de Israel.
Carlos Alberto Chiarelli foi ministro da Educação e ministro da Integração Internacional
(E-mails para carolchiarelli@hotmail.com)
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