Após o sucesso de ‘Ainda Estou Aqui’ e três indicações do filme ao Oscar, o governo Lula prepara uma cerimônia de pedido oficial de desculpas à família do ex-deputado Rubens Paiva, morto e desaparecido pela ditadura militar, e de outros 413 desaparecidos políticos no regime.
A cerimônia está sendo elaborada pelo Ministério dos Direitos Humanos e pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, e deve acontecer em abril. Além do pedido de desculpas, o ministério deve fazer recomendações a órgãos públicos sobre o tema.
A iniciativa acontece após a certidão de óbito de Rubens Paiva, desaparecido pela ditadura em janeiro de 1971, ter sido corrigida em resposta a uma resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de dezembro que os cartórios corrijam ou lavrem documentos de mortos e desaparecidos políticos.
Na versão anterior, emitida em 1996, após décadas de luta da esposa do ex-deputado, a advogada Eunice Paiva, a vítima era tratada apenas como desaparecida. Paiva foi preso pela polícia da ditadura em sua casa, no Rio de Janeiro, em 20 de janeiro de 1971.
A nova versão do documento, emitida pelo Cartório da Sé, na capital paulista, afirma que a causa da morte de foi “não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964.”
A correção da certidão de óbito ocorreu no mesmo dia em que o filme “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, que retrata o drama da família Paiva, conquistou três indicações ao Oscar: melhor filme, melhor filme internacional e melhor atriz (para Fernanda Torres, que interpreta Eunice). A obra é baseada no livro homônimo do escritor Marcelo Rubens Paiva, um dos cinco filhos do ex-deputado e de Eunice.
Após a indicação ao Oscar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama Janja Lula da Silva parabenizaram Fernanda Torres por disputar como melhor atriz. O sucesso do filme levou o presidente a receber Torres no Palácio do Planalto, onde ele e Janja posaram para fotos e vídeos com a atriz.
Pouco mais de um ano antes, contudo, o presidente não recebeu Vera Paiva, uma das filhas de Rubens Paiva, que foi até o Palácio do Planalto em 30 de agosto de 2023 (Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimentos Forçados) para vê-lo junto em uma comitiva de familiares de desaparecidos políticos do regime militar.