A possibilidade de o novo governo do Brasil ceder espaço territorial para instalação de uma base militar dos Estados Unidos no País é desnecessária e inoportuna, na opinião de três generais e três oficiais superiores ouvidos pelo jornal “O Estado de São Paulo”.
Admitida em recente entrevista ao canal SBT pelo presidente Jair Bolsonaro como uma questão a ser estudada no futuro, a ideia não se afina com a política de defesa nacional.
Um dos chefes de tropa lembra que acordos desse tipo só se justificam quando há risco de agressão externa fora da capacidade de reação e capaz de colocar em perigo a integridade da nação. “É o caso do menino fraco que chama o amigo forte para enfrentar os valentões da rua, mas estamos longe disso”, exemplificou.
Na prática, a iniciativa pode ser um fator complicador nas delicadas discussões bilaterais para uso do Centro de Lançamento de Alcântara, da Aeronáutica, no Estado do Maranhão. A posição do complexo e as condições climáticas favoráveis na maior parte do ano contribuem para redução significativa dos custos da operação comercial do transporte espacial para posicionamento de satélites.
Os norte-americanos gostariam de um aluguel de longo prazo. Os brasileiros querem vender serviços em regime de cooperação – todavia, sem ceder o controle da base.
História
Durante os anos finais da 2ª Guerra Mundial (1938-1945), a aviação dos Aliados (liderada em larga escala pelos Estados Unidos) contra os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) negociou a construção de uma gigantesca base aéreae m Parnamirim, no Rio Grande do Norte. Duas pistas, 700 prédios, 4,6 mil combatentes e um tráfego diário de 400 a 600 aeronaves para lançar ataques contra objetivos no Norte da África e sul da Europa.
Em 1945, com base nos termos do acordo firmado entre os presidentes brasileiro Getúlio Vargas e norte-americano Franklin Roosevelt, aviões e pessoal dos Estados Unidos saíram das instalações. Nos quatro anos de operação conjunta da base, a população de Natal, capital do Rio Grande do Norte, dobrou de 40 mil para 80 mil habitantes.
Documentos do Departamento de Estado registram uma tentativa de prorrogação do pacto de colaboração, em 1946, por um período de 50 anos. A chancelaria do Brasil informou a Washington que a então recém-criada FAB (Força Aérea Brasileira) tinha planos próprios para o conjunto. Ao longo do tempo, nenhum outro tratado do mesmo tipo foi negociado.
As Forças Armadas mantêm acordos com organizações militares estrangeiras para receber grupos de treinamento especializado (em disciplinas de guerra na selva, por exemplo) ou para exercícios combinados de combate aéreo. E é só.