Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 16 de dezembro de 2015
Anna Muylaert termina o ano de 2015 “muito cansada” depois do bem-sucedido lançamento de “Que Horas Ela Volta?”. Mas a vontade de ter um programa no Canal Brasil (“sempre quis”, conta ela) foi mais forte. A diretora do longa escolhido para representar o Brasil na disputa por um lugar entre os filmes estrangeiros no Oscar de 2016 estará à frente da “Mostra Cine-delas”. A faixa, com exibição de títulos dirigidos apenas por mulheres, estreia em 8 de janeiro, com “Amor, Plástico e Barulho” (2014), da pernambucana Renata Pinheiro, e segue com um filme por semana, sempre às sextas-feiras.
Na atração, Anna conversa com as diretoras antes da exibição de seus trabalhos. Entre as convidadas estão nomes como Sandra Werneck, que apresenta “Pequeno Dicionário Amoroso” (1996), Monique Gardenberg, de “Ó Paí, Ó”(2007), e Sandra Kogut, de “Um Passaporte Húngaro”(2001).
Reflexão necessária.
Além de falar dos seus longas e de contar histórias de bastidores, as entrevistadas refletem sobre o papel da mulher na sociedade. E, claro, questionam o fato de serem minoria entre os cineastas. “A questão no cinema e no mundo é que a mulher sempre é tratada como café com leite. De uma maneira geral. Não sei explicar os motivos, mas isso começou a me machucar”, revela Anna, antes de completar: “A gente tem que falar sobre isso. Acabei me tornando uma voz desse assunto. A ideia que temos do machismo é a de um homem mau batendo numa mulher indefesa. Isso não é machismo, é crime. O problema são as pequenas humilhações do cotidiano.”
Apesar de ter dirigido e escrito o roteiro de “Que Horas Ela Volta?”, Anna diz ter se sentido invisível em alguns eventos cinematográficos. “Estava em um lugar com pessoas importantes e vieram falar com meu namorado, que não faz parte da equipe do filme”, relata. A diretora adianta que essas discussões estão no programa.
Ela afirma não fazer distinção entre “filmes de mulheres” e “filmes de homens”. Mas conta que começou a perceber certas desigualdades ao longo da carreira. “Não penso que estou fazendo um filme feminino quando estou dirigindo. Mas passei a observar isso. Se você faz um tipo de cinema mais autoral o machismo não aparece. Mas na escola, a história é contada sob o ponto de vista dos poderosos, dos homens que venceram as guerras. As mulheres não são as protagonistas.”
O Teste de Bechdel.
Anna diz ter reavaliado alguns filmes após analisar as obras a partir do Teste de Bechdel, que indica com apenas três perguntas se a produção trata o gênero feminino de forma preconceituosa. “A obra tem pelo menos duas mulheres que conversam entre si? O assunto tratado por elas não é um homem? Essas duas personagens têm nome? Muitos filmes não passam nesse teste. Em geral, a mulher é a figurante ou aparece apenas de forma sensual. Ou ainda sendo subestimada pelo personagem masculino. Até em longas dirigidos por mulheres. Eu não tinha me dado conta disso.”
A equipe do programa do Canal Brasil é toda formada por mulheres. O festival exibe ainda os filmes “Durval Discos” (2002), da própria Anna; “Como Esquecer” (2010), de Malu De Martino; “A Primeira Missa – Ou Tristes Tropeços, Enganos e Urucum” (2014), de Ana Carolina; “Reidy – A Construção da Utopia”, (2009), de Ana Maria Magalhães; “Narradores de Javé” (2004), de Eliane Caffé; “A Hora da Estrela” (1985), de Suzana Amaral; “Irma Vap – O Retorno” (2006), de Carla Camurati; “A Via Láctea” (2007), de Lina Chamie; e “Revelando Sebastião Salgado” (2012), de Betse de Paula. (AG)