Sexta-feira, 17 de janeiro de 2025
Por Carlos Alberto Chiarelli | 5 de setembro de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
A Índia é um país que não produzia, pelo menos desde a última metade do século passado, manchetes garrafais na imprensa ocidental. Talvez se deva registrar uma exceção: os meios de comunicação gráficos (Time de Londres) e eletrônicos (BBC) são ingleses. Tiveram uma história de reservar espaços – inclusive destacados – para o que acontecia na sua ex-colônia.
Talvez, um efeito dessa limitação informativa, no Brasil, há uma carência que chega a ser alarmante pelo que não sabemos de antes, de agora e, agravadamente, de amanhã.
Do que não se tem ideia é que, por exemplo, no altamente qualificado CENTRO DE FORMAÇÃO E ATUALIZAÇÃO PROFISSIONAL (sediado em Turim, Itália, e titulado no mundo inteiro) que tem a grife da OIT, são os jovens indianos os que fazem, na contagem por conferir o papel de país majoritário, com uma rotina de reposição anual alimentada por universidades, macro empresas, governos e sindicatos. Todos eles têm a missão de acompanhamento escolar rigoroso (uma das explicações – senão a maior – do êxito obtido). Os moços saem preparados e – este é um dado fundamental – voltam para trabalhar, necessariamente, na Índia.
A Índia, com um contingente de 1.3b de habitantes ocupa a vice liderança entre as populações nacionais. A China, com uma população de 1.7b, é a primeira e apresenta problemas similares aos nossos com agudização do desnível de renda e de oportunidades entre os que podem e os que não podem.
Mumbai, sem ser a capital, é a maior cidade do país, com aproximadamente 20 milhões de habitantes.
A Índia, que teve em Mahatma Gandhi, o missionário perfeito, o pacifista permanente e insistente e líder inconteste de uma sociedade montada sobre CASTAS, sonhava com a independência. Enquanto isso, respeitosos e respeitando a maravilhosa originalidade, preservando direitos urbanos por motivos de fé religiosa, elefantes e vacas circulavam livremente, afirmando que nesse particular independente do enfoque que tem os outros países, o que era, continuará sendo.
A Índia, no entanto, como país e com sua manifestação cultural criativa com expansões e expressões religiosas, com impedimentos e exigências surpreendentes e díspares (por exemplo, o exigido dote, às vezes superior à capacidade do nubente de viabilizá-lo tendo de passar pelos intricados caminhos de uma burocracia ainda mais complexa do que a de outros países para cumprir a exigência) não registra qualquer pesquisa de opinião moderna que reconheça a necessária tendência de superar essa obrigação conjugal.
A Índia, apesar do extenso território de áreas precariamente civilizadas, de estradas, por exemplo, em número expressivo, que tem a conservação praticamente primitiva, dá-se ao luxo, em contraponto, de oferecer, em selecionadas ferrovias elétricas, trens com velocidade “japonesa”.
Algo destacável e meritório é a democracia hindu, que vigora com o poder judiciário funcionando, partidos políticos de forte embasamento doutrinário e até religioso que enseja que o cidadão tenha, inclusive, a dupla tarefa de um encargo comunitário e do direito de voto. Não há dúvida que a Índia aproveitou várias lições e formulações, inclusive eleitorais, fruto da longa permanência de viver sob a colonização britânica, que serviu, apesar da diferença entre os dois, de modelagem para grande parte da sociedade hindu.
Importante recordar que, ao contrário de um país livre, que é o caso da Índia, a China, permanente rival e concorrente, com mais habitantes, é uma DITADURA COMUNISTA, onde não há voto popular, imprensa livre, direito de greve e nem partido político com ideias próprias.
A Índia não é hoje nem foi ontem o que era anteontem. Teve de sobreviver à guerra de seus hindus contra os budistas. Aqueles, sendo majoritários, triunfaram, mas os inimigos fizeram, com uma parte da qual tinham posse, mesmo derrotados, uma cessão interna.
A Índia conseguiu consolidar sua área bem maior depois do confronto. Com isso, logrou afirmar território, religião e modelo político administrativo (regime parlamentarista; chefia do governo do primeiro ministro, que é o líder do partido que vencer a eleição – o candidato à reeleição que for derrotado, tem a obrigação de renunciar, como acontece com a Inglaterra, Itália, etc.).
Dissemos que a Índia enfrentou uma guerra de crenças, na qual o Paquistão consolidou também o seu budismo, ainda que derrotado. Dividida por sua posição geográfica lindeira da Índia e do Paquistão, o que da guerra ainda restou como ponto de efervescência eventualmente bélica foi a área de Cachemira. Índia e Paquistão seguidas vezes lançam, no cenário mundial, críticas de uma a outra. Há alguns anos, tais propostas chegavam a preocupar meios diplomáticos e grandes jornais, agora, a Índia já deixou que soubessem, sem dúvida, que possui o seu paiol de bombas atômicas. Tal anúncio foi seguido poucos anos depois por idêntica manifestação do Paquistão. Logo, ambos com armas altamente destruidoras, acabaram por neutralizar-se e fizeram com que se cumpra o enunciado inteligente latino: “Si vis pacem, para belum” (Se queres a paz, prepara-te para a guerra).
Hoje, depois desse nosso olhar en passant sobre a Índia, fiquei impressionado pelo que ocorreu a partir do último fim de semana. Surpreendi-me pelo feito científico da Índia, que alcançou o sol com foguete equipado com material de construção do país. Mais, bem mais, do que os mais sabidos anúncios dos já tradicionais exploradores do espaço que até hoje não conseguiram êxito na empreitada realizada pelos hindus.
O foguete, enviado pela Índia, sobre o qual, praticamente, nenhuma informação importante havia no exterior, realizou o “milagre”, chegando, diante do sol pelo lado sul, que até então era de acesso absolutamente inacessível para todos, com equipamento totalmente desconhecido para as potências que se acreditavam as únicas dominadoras do espaço.
A vitória da Índia apontou vários aspectos: a velocidade com que se cumpriu o percurso, a solidez (resistência) do foguete, a capacidade de retorno e a abertura de um caminho de exploração tão desafiador como o que tem o sol por objeto.
Mesmo com esclarecimento de que não se ultrapassara todos os limites de aproximação do astro rei, colocaria os cientistas numa situação duvidosa e de alto risco ante o rei sol, que cabia não ser provocado.
O que importa é que até os hindus com seu equipamento, também peculiar, contornarem a rota sul do astro rei e ganharem a medalha de ouro de tão séria disputa, o ouro, na verdade, é da Índia.
Carlos Alberto Chiarelli foi ministro da Educação e ministro da Integração Internacional
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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