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Economia A inflação que o governo “segurou” em janeiro, com a redução pontual nas contas de luz, voltou com força em fevereiro

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Em recente entrevista, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou considerar importante o governo federal voltar a apresentar contas no azul. (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

A inflação que o governo “segurou” em janeiro, com a redução pontual nas contas de luz, voltou com força em fevereiro – como previsto – e lançou a taxa do mês ao maior nível dos últimos 22 anos. A alta de 1,31% em fevereiro, que empurrou o acumulado em 12 meses para 5,06%, é uma prova cabal da inutilidade de manobras da gestão lulopetista. Se em janeiro, com a “mãozinha” do bônus da usina de Itaipu, o barateamento de 14,21% nas tarifas de energia conteve o IPCA em 0,16%, no mês seguinte a recomposição do mesmo bônus devolveu tudo e mais um pouco.

A cada mês a evolução dos preços mostra ao presidente Lula da Silva que de nada adiantam medidas populistas para conter a inflação. Será inócuo zerar a taxa de importação do café e de outros produtos alimentícios, assim como é irrealista querer controlar o preço dos combustíveis ou forçar atacadistas e varejistas a atrelarem suas decisões de negócios à vontade do governo. Mas Lula não se convence. Ao contrário, prefere exercitar uma retórica belicosa ameaçando tomar uma “atitude mais drástica” caso não encontre uma “solução pacífica”.

A inflação de fevereiro não foi um ponto fora da curva. O IPCA, que tradicionalmente nesta época é pressionado pelos reajustes das mensalidades escolares, sofreu impacto ainda maior das tarifas de energia elétrica residenciais, que responderam por 0,56 ponto porcentual do IPCA geral. E o mais preocupante são as tendências de alta observadas nos núcleos das taxas, como são chamadas as medidas estatísticas que desconsideram impactos temporários, como a sazonalidade das mensalidades escolares, por exemplo.

Recente reportagem do Broadcast/ Estadão mostrou que as estimativas do mercado financeiro estão concentradas na manutenção do IPCA acima do teto da meta (4,5%) até setembro de 2026, quando iniciará um recuo lento. O principal temor dos analistas é o de que novos estímulos fiscais acelerem ainda mais a alta dos preços. A preocupação não é despropositada, haja vista algumas medidas recentes, como a liberação de R$ 12 bilhões por meio do FGTS, o incentivo ao empréstimo consignado privado e, talvez, em 2026, a isenção tributária para quem ganha até R$ 5 mil mensais.

Medidas de estímulo ao consumo surgem em grande número, impulsionadas por mantras característicos de Lula, como “quero mais crédito para o povo” e “dinheiro circulando nas mãos das pessoas faz a economia crescer”, entre outros de mesma natureza. No entanto, ao sobreaquecer a economia e gerar uma demanda artificial sem um correspondente aumento na produção e na produtividade, o governo ignora um princípio essencial para o crescimento sustentável: o equilíbrio fiscal.

Em recente entrevista ao Flow Podcast, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou considerar importante o governo federal voltar a apresentar contas no azul. “Tem gente que discorda disso; tem gente que quer fazer mais rápido”, comentou, reconhecendo não haver consenso em torno da calibragem da política fiscal. Embora Haddad tenha defendido a ideia de que o ajuste “não precisa ser recessivo” – e para isso voltou a defender a tributação dos super-ricos como contrapartida a eventuais cortes de gastos –, a cruzada pela política fiscal tem sido, pelo que se observa no governo Lula da Silva, uma batalha isolada da equipe econômica.

A perspectiva de um IPCA pressionado até as vésperas da eleição presidencial do ano que vem aumenta a apreensão sobre o comportamento do Palácio do Planalto em relação à política autônoma do Banco Central (BC). Desde o início de seu terceiro mandato, Lula da Silva torpedeou a direção do Banco Central pelos juros altos. A partir da posse de seu indicado, Gabriel Galípolo, na presidência do banco, iniciou uma trégua, mas o futuro é incerto. Em junho, a meta de inflação irá estourar novamente, como já antecipou a própria direção do BC. Para o mercado, em agosto o acumulado do IPCA em 12 meses deve chegar a 5,82%. Pelo andar da carruagem, a volta da pressão política sobre a autoridade monetária é questão de tempo. (Opinião/Estadão Conteúdo)

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