Segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 21 de novembro de 2024
Embora aponte omissões e contradições na delação do tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, a Polícia Federal (PF) conta com uma informação fornecida por ele para fechar o relato sobre a participação do general Walter Braga Netto na trama que redundou nos ataques à sede dos Três Poderes em 8 de janeiro. As informações são da jornalista Malu Gaspar, do jornal O Globo.
De acordo com fontes ligadas à investigação, foi Cid quem afirmou que a reunião de 12 de novembro de 2022 entre os militares que planejaram sequestrar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e matar o então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e o vice eleito, Geraldo Alckmin, ocorreu na casa de Braga Netto. Em sua delação premiada, Cid afirmou que o general participou do encontro, que teria tido o objetivo de discutir esses planos.
As mensagens apreendidas pela PF e os dados de monitoramento da investigação demonstram que a reunião ocorreu no prédio onde Braga Netto morava, o bloco B da quadra 112 da Asa Sul de Brasília (DF). Mas por ser um edifício de apartamentos funcionais do Ministério da Defesa, ele é todo ocupado por militares, de modo que qualquer um poderia ter autorizado a entrada do grupo.
Na época em que a reunião aconteceu, também moravam ali o então ministro da Defesa de Bolsonaro, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e o ministro da secretaria-geral da Presidência da República, Luis Eduardo Ramos. Em outra reunião do mesmo grupo, semanas depois, na Asa Norte, o local escolhido foi um salão de festas.
A informação de Mauro Cid coloca Braga Netto na trama golpista de forma decisiva, mas ainda assim a colaboração dele com a PF é considerada incompleta. Em seus depoimentos, ele nega por exemplo ter conhecimento de um plano para sequestrar e matar Moraes e envenenar Lula e Alckmin. “Ele fala algumas coisas, mas deveria falar a verdade sobre tudo o que é perguntado”, diz um investigador.
As mensagens que constam da representação da PF que baseou os pedidos de prisão mostram que Cid estava na reunião e que, no dia seguinte, ele pede ao major Rafael de Oliveira, preso na operação de terça-feira (19), uma estimativa de orçamento para a ação que seria realizada – e que incluiria trazer oficiais das Forças Especiais, os kids pretos, para o Rio de Janeiro. Na conversa, Rafael estima em R$ 100 mil o custo da ação, e Mauro Cid responde com um ok.
Em outro relatório da PF, sobre a operação Tempus Veritatis, realizada em fevereiro, os investigadores demonstram que Braga Netto recebeu a visita de militares golpistas na sede do PL e disseminou fake news tanto sobre o comandante do Exército que se recusava a aderir ao golpe, Freire Gomes, como sobre o futuro comandante de Lula, Tomás Paiva.
Nessa etapa da investigação, realizada em fevereiro, Braga Netto foi alvo de busca e apreensão.
Com base nas informações já recolhidas, portanto, a PF acredita que o ex-braço direito de Bolsonaro ainda está protegendo Braga Netto. Esse é um dos pontos que será abordado pelo ministro Alexandre de Moraes na audiência com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, para se explicar.
Cid terá que se empenhar para convencer o ministro de que as informações que apagou de seu computador e as omissões de seu depoimento não invalidam seu acordo de colaboração premiada.