A internação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para uma cirurgia de emergência e as dúvidas sobre seu estado de saúde colocaram ainda mais peso na escolha do sucessor de Gleisi Hoffmann no comando do PT. Com a possibilidade de Lula ficar cada vez mais afastado da política, o novo dirigente nacional do partido terá de ser alguém de sua extrema confiança. O principal desafio será conduzir o processo eleitoral de 2026, que conta com uma incerteza: Lula será candidato à reeleição ou abrirá caminho para um substituto, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad?
Na avaliação de interlocutores do chefe do Palácio do Planalto ouvidos pela Coluna do Estadão, quem reuniria as melhores condições de ocupar o cargo nesse cenário é o prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva, já apontado como o favorito do petista. O argumento é de que o presidente da República tem uma relação mais próxima com o prefeito, e quem bate o martelo é ele.
Embora tenha sido criticado por não conseguir eleger a sucessora em Araraquara nas eleições municipais de outubro, Edinho mantém em alta seu capital político junto ao núcleo duro de Lula. Ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social no governo Dilma Rousseff, ele tem defendido que a sigla precisa recuperar sua conexão com os trabalhadores.
Edinho evita comentários. E, em público, todos ressaltam que qualquer discussão sobre o tema só será retomada quando o presidente Lula tiver alta. Nos bastidores, entretanto, a sucessão no PT pega fogo. A própria Gleisi prefere um nome alternativo, como o líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE). O consenso entre os distintos grupos petistas é que a disputa ganhou dimensão “do tamanho do oceano”.
Aliados do presidente Lula avaliaram um trecho do discurso feito por ele no encerramento do seminário do PT, no dia 6 de dezembro, como uma demonstração de descontentamento com a proliferação de cotados para disputar a presidência do partido. O mandato de Gleisi Hoffmann como presidente da legenda termina no meio do ano que vem. A fala de Lula no evento foi por meio de videoconferência.
No dia 7 de dezembro, o PT definiu que a eleição para escolher seu próximo presidente será em 6 de julho de 2025. Apesar disso, já há ao menos quatro nomes circulando como possíveis candidatos:
– Edinho Silva – prefeito de Araraquara e favorito de Lula para o cargo;
– José Guimarães – líder do governo na Câmara e do grupo político mais próximo de Gleisi Hoffmann;
– Paulo Okamotto – presidente da Fundação Perseu Abramo e amigo de Lula há décadas;
– Rui Falcão – ex-presidente do partido e representante de alas petistas mais à esquerda.
A disputa pelo comando do partido entre os grupos internos – mais conhecidos como “correntes” ou “tendências” – é tradicional desde a fundação do PT. O mais comum é a sigla ser presidida por um integrante da Construindo um Novo Brasil, corrente majoritária organizada em torno de Lula, ou no mínimo por um nome apoiado pela CNB.
“Eu espero que a gente não diminua o trabalho do PT pensando que o que vai resolver o problema do PT é a escolha de um presidente”, declarou Lula em seu discurso. “Se você, ao invés de colocar o melhor dirigente, colocar o representante de uma tendência, ele não consegue falar com um vereador de uma cidade”, disse o presidente da República.
Lula também afirmou que o partido está com “um problema sério” de formação de quadros. “O dado concreto é que nós desaprendemos a fazer isso porque o jeito de fazer política ficou mais institucionalizado”, disse ele.
Gleisi inicialmente ficaria na presidência do PT até 2023, mas o Diretório Nacional do partido prorrogou o mandato até o meio de 2025. A prorrogação foi uma forma de minimizar as disputas partidárias nos primeiros meses do governo Lula. Quem assumir o comando do partido depois de Gleisi terá mandato até 2029 e papel central na campanha de 2026, quando Lula deverá tentar a reeleição. É comum presidentes do PT se tornarem também coordenadores das campanhas presidenciais do partido. (Estadão Conteúdo)