O garimpo ilegal é realidade de décadas na terra Yanomami, mas teve aumento exponencial em 2019, conforme apontam dados oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia. Segundo a série histórica, foram 29 mil quilômetros quadrados naquele ano, o maior volume desde 2008, quando o índice chegou a 14 mil quilômetros quadrados.
A invasão de garimpeiros ameaça a saúde dos Yanomami, pois usa mercúrio para extrair ouro, polui os rios, mata os peixes e impede que os indígenas produzam seus próprios alimentos, como a mandioca. E o barulho das máquinas assusta os animais que servem de alimento, apontam especialistas que acompanham os impactos sobre a população.
O contato com o homem branco também é responsável pela transmissão de doenças, como gripe e covid. Os garimpeiros, dizem especialistas e os próprios indígenas, ainda levam álcool, drogas e estão por trás de episódios de violência nessas áreas.
O Ministério dos Povos Indígenas diz que 99 crianças Yanomami, de um a quatro anos, morreram em 2022 devido ao avanço do garimpo. As causas são, na maioria, desnutrição, pneumonia e diarreia. A pasta estima que ao menos 570 crianças foram mortas pela contaminação por mercúrio, desnutrição e fome nos últimos quatro anos.
A crise no território ganhou atenção há uma semana quando ministros do governo federal e o presidente Lula se deslocaram para a região diante da denúncia de precariedades na alimentação e atendimento à saúde indígena. Uma crise humanitária e sanitária foi reconhecida na área, que passou a contar com reforços na atenção médica.
A população indígena atual na região chega a cerca de 30,4 mil indígenas, vivendo em 386 comunidades. Não existem dados precisos sobre o total de garimpeiros no local, mas estima-se que, com a alta dos últimos anos, cerca de 25 mil atuem com atividades clandestina no território, que teve a sua demarcação concluída em 1992.
Crise
Indígenas Yanomami que migram para Boa Vista sofrem com a falta de apoio. Uma parte deles vira morador de rua e se torna alvo de violência e preconceito. Sem falar português, eles têm dificuldade para conseguir trabalho e até para acessar auxílios do governo.
No Hospital da Criança Santo Antônio, em Boa Vista, trinta crianças indígenas foram internadas de 1.º a 26 de janeiro deste ano com o mesmo diagnóstico de desnutrição. Elas chegam ao local com diarreia, pneumonia e quadros de malária, que são as principais causas de internação. A dieta no local respeita a tradições indígenas.