Segunda-feira, 27 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 13 de março de 2023
Integrantes da cúpula das Forças Armadas não escondem sua irritação com o caso das joias da Arábia Saudita que tinham como destino o casal Bolsonaro, mas que foram apreendidas pela Receita Federal.
A principal preocupação é referente ao número de militares envolvidos diretamente no escândalo e as possíveis consequências que as investigações podem ter para a imagem das Forças.
Só nos fatos centrais, de trazer as joias de R$ 16,5 milhões sem declarará-las ao Fisco e tentar reaver as peças de diamantes, há quatro militares envolvidos diretamente no caso: o almirante de esquadra da Marinha e ex-ministro Bento Albuquerque, o primeiro-tenente da Marinha e ex-assessor de Bento, Marcos Soeiro, o tenente-coronel do Exército e ex-ajudante de ordem de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, e o primeiro-sargento da Marinha, Jairo Moreira da Silva.
Além disso, eles apontam o desgaste com a exposição do uso de aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) na tentativa de Jair Bolsonaro de reaver as joias, assim como o transporte de fuzil e pistola nas aeronaves militares durante o governo passado.
A avaliação de integrantes da cúpula das Forças é que o escândalo envolvendo diretamente quatro militares traz prejuízos diretos à imagem da corporação, que já foi afetada pela atuação partidária de alguns de seus membros. Para eles, a situação pode se agravar ainda com o desdobramento das investigações da Polícia Federal que apura crimes como descaminho e advocacia administrativa, entre outros.
Por isso, a ordem direta dada aos militares que protagonizam o escândalo é que mantenham silêncio e evitem qualquer manifestação pública sobre o tema. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, foi alvo de queixas do comando do Exército, por ter falado publicamente sobre o caso.
Segundo aliados de Cid, ele tentou justificar que buscava “se defender” ao falar com jornalistas sobre o tema, mas a orientação para que ele submerja foi expressa. Nesta semana, a tensão segue alta na caserna sobre as consequências que depoimentos à PF podem trazer à imagem das Forças.
Segundo pacote de joias
A defesa de Jair Bolsonaro pediu ao Tribunal de Contas da União (TCU) para entregar à Corte o segundo conjunto de joias oferecidas pela Arábia Saudita que ficaram com o ex-presidente da República. Os advogados de Bolsonaro querem que as peças fiquem sob a guarda do TCU até que o destino final, seja acervo privado ou patrimônio da União, seja definido pela Corte de Contas.
“(Jair Bolsonaro) Vem formalmente requerer que os referidos bens sejam logo depositados neste Tribunal de Contas, nele permanecendo até a conclusão do presente feito, determinando-se para tanto, a designação de data e local para a sua apresentação”, afirma a defesa de Bolsonaro em petição protocolada no TCU.
Os advogados do ex-presidente ainda alegam que em momento algum Bolsonaro “pretendeu locupletar-se ou ter para si bens que pudessem, de qualquer forma, serem havidos como públicos”.
Os itens — um relógio, abotoaduras, um anel, uma caneta e uma mosbaha (espécie de rosário) – fazem parte de um segundo conjunto de presentes dados por autoridades sauditas a uma comitiva brasileira em 2021, liderada pelo ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque.
Quando Albuquerque retornou ao Brasil, a Receita Federal confiscou um estojo de joias avaliadas em R$ 16,5 milhões. Elas estavam com um assessor de Albuquerque e não haviam sido declaradas.
Bolsonaro admitiu, na semana passada, ter ficado com o segundo presente, que entrou no Brasil. O TCU já havia proibido o presidente de vender ou utilizar esses itens.
A defesa disse ainda que Bolsonaro comparece de forma espontânea à PF e ao TCU para prestar esclarecimentos. “Colocando-se, desde logo, à total disposição para atender a quaisquer determinações no interesse do esclarecimento da verdade real, especialmente sua oitiva”, afirma.