Segunda-feira, 03 de março de 2025
Por Redação O Sul | 1 de março de 2025
O suspense, há tempos ausentes da cerimônia de premiação do Oscar, estará de volta neste domingo (2) na festa da Academia de Cinema de Hollywood. Brasileiros, em particular, estarão na beira de seus assentos durante o anúncio dos vencedores de três categorias: melhor filme internacional, melhor filme e melhor atriz. Em todas elas, concorre “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles. Três indicações que representam triunfos internacionais importantes para o cinema brasileiro.
“Ainda Estou Aqui” construiu uma trajetória, dentro e fora do País, que já o situa como um fenômeno. No Brasil, ultrapassou a marca de 5 milhões de espectadores – número absolutamente fora da curva para uma produção com esse perfil. Para o público mais velho, “Ainda Estou Aqui” representou um reencontro com a experiência das salas de cinema após a pandemia. Para o público jovem, promoveu o contato com um período da história do Brasil que não viveram.
A partir do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, que relata o sequestro de seu pai, o ex-deputado Rubens Paiva, pela ditadura militar, o filme descreve silenciosamente os efeitos devastadores de uma subtração súbita e sem reverso na vida de uma família de classe média brasileira.
Tanto no Brasil como internacionalmente, o filme chega em um momento de ascensão da extrema direita e temor em relação ao futuro dos regimes democráticos. É um filme, portanto, que reflete as ansiedades de seu tempo.
Walter Salles é um cineasta de projetos de longa gestação, muito cuidadosamente encubados e preparados. “Central do Brasil” foi desenvolvido ao longo de seis anos, por exemplo. “Ainda Estou Aqui” levou oito anos.
O filme é uma coprodução independente entre Brasil (VideoFilmes) e França (Mact), replicando o modelo de “Central do Brasil”. O acordo verbal com a Mact, companhia de Martine de Clermont Tonerre e seu filho, Thierry, aconteceu em 2017. As primeiras pré-vendas para diferentes territórios foram iniciadas em 2021, no mercado do Festival de Cannes.
Como tantos projetos independentes de porte médio, “Ainda Estou Aqui” tem uma complexa engenharia financeira. Por conta de contratos de confidencialidade entre os parceiros, não há um número oficial do orçamento do filme, mas, segundo estimativas, ele custou cerca de R$ 45 milhões.
Em 2023, a financiadora de filmes independentes Library Pictures entrou no projeto, adquirindo uma garantia pelos direitos americanos. Michael Barker, da Sony Pictures Classics, viu o filme em abril de 2024, ainda em processo de montagem, em Paris, e a Sony Pictures adquiriu os direitos de distribuição para América do Norte, Oriente Médio, Europa Oriental, Turquia, Portugal, Austrália e Nova Zelândia. A Sony Brasil se tornou a distribuidora do filme no Brasil, e um acordo também foi feito para o lançamento na América Latina, onde o filme acaba de estrear.
“Tudo foi pensado, desde o início, para exibição em cinemas, no Brasil e no mundo. Toda a repercussão em salas de cinema em diferentes países não estaria ocorrendo se não fosse essa escolha inicial. Até a ideia de filmar em 35 mm e super-8 é orgânica a esse processo. Não queria adicionar grão artificial ao filme ou usar algum programa de IA para retratar o Rio dos anos 1970. Todo o processo foi pensado para ser analógico, em sintonia com um dos temas centrais do filme: a reconstituição da memória, tanto pessoal (a da família Paiva) quanto coletiva”, conclui Salles.
Depois do lançamento protocolar limitado antes de 31 de dezembro, para se habilitar ao Oscar, “Ainda Estou Aqui” estreou nos Estados Unidos no dia 17 de janeiro, em 704 cinemas. “É algo não alcançado antes para um filme com legendas no mercado americano. E vamos ampliar o circuito depois do Oscar. Esperamos ganhar um ou dois. Acredito que temos uma boa chance”, aposta o executivo, que não revela os valores investidos na campanha.
“Não costumamos revelar orçamentos porque as campanhas são feitas sob medida para cada filme. Mas garanto que não é a loucura das campanhas da Netflix”, alfineta (segundo estimativas da “Variety”, a plataforma de streaming gastou mais de US$ 20 milhões na campanha de “Roma”, em 2018, por exemplo). No último fim de semana, “Ainda Estou Aqui” ampliou seu circuito para 762 cinemas no mercado americano, com bilheteria acumulada de US$ 4,2 milhões, segundo o BoxOffice Mojo.