Terça-feira, 26 de novembro de 2024
Por Dad Squarisi | 18 de dezembro de 2022
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
O Tribunal Superior Eleitoral lançou cartilha pra lá de polêmica. Trata-se de Expressões racistas: por que evitá-las. Nela, lista 40 palavras e expressões consideradas politicamente incorretas porque remetem ao racismo. É o caso de denegrir, esclarecer, nega maluca, inveja branca, magia negra, ovelha negra.
Politicamente correto
Há palavras e palavras. Algumas informam. Outras emocionam. Há as que mobilizam para a ação. Todas têm hora e vez. Cuidado especial merecem as que ofendem ou reforçam preconceitos. Grupos organizados – movimento negro, movimento LGBTqia+, movimento feminista – estão atentos aos vocábulos politicamente incorretos. Recomenda-se cuidado para não ofender nem agredir o leitor ou o ouvinte.
Moderação
Mas não exagere. Cabeleireiro é cabeleireiro, não hair stylist. Costureira é costureira, não estilista de moda (outra especialidade). Manicure é manicure, não esteticista de unhas. Empregada doméstica é empregada doméstica, não secretária do lar. Dona de casa é dona de casa, não do lar ou especialista em prendas domésticas. Cego é cego, mudo é mudo, surdo é surdo, surdo-mudo é surdo-mudo. Pessoa com deficiência nem sempre tem a precisão desses termos. Quando necessário, use-os sem constrangimento.
Curiosidade
O radialista Airton Medeiros estava entrevistando ao vivo a presidente de uma associação de cegos em programa da Rádio Nacional. Tratava-a de cega até receber um papelzinho com a recomendação de que a tratasse de “pessoa com deficiência visual”. Antes de obedecer à ordem, perguntou se deveria continuar tratando-a de cega ou tinha de mudar para pessoa com deficiência . Ela aproximou as mãos do rosto dele até tocar os óculos. Então afirmou: “Pessoa com deficiência visual é você, que usa óculos. Eu sou cega”.
Alvos
Cor, idade, peso, altura, origem, condição social e tendências sexuais são as principais vítimas das brincadeirinhas, piadas preconceituosas ou uso “sem intenção de ofender”. Como agir?
1. Alto, baixo, gordo, magro, grande, pequeno são relativos. Alguém pode ser alto pra uns e baixo pra outros. Diga a altura, o peso, o tamanho: 1,95m, 50kg, 300kg.
2. Negro é raça. Nessa acepção, use-o sem pensar duas vezes. Pelé é negro. Não é escurinho, crioulo, negrinho, moreno, negrão ou de cor.
2.1. Evite o adjetivo negro em expressões de conotação negativa. Em vez de nuvens negras, prefira nuvens pretas ou escuras. Em lugar de lista negra, dê nome aos bois: lista de maus pagadores, lista de alunos relapsos, lista de sonegadores.
2.2. Apague denegrir de seu dicionário. Prefira comprometer. Elimine também judiar (da família de judeu). Substitua-o por maltratar.
2.3. Quer indicar cor? O preto está às ordens.
3. Paraíba e cabeça-chata? Não. Identifique o estado de origem com precisão (paraibano, pernambucano, cearense). Se quiser generalizar, use o adjetivo indicador da região: nordestino, nortista, sulista.
4. Bicha, veado, sapatão? Xô! Fique com homossexual, gay, lésbica, LGBT.
Diga
Chinês, coreano, japonês (não: japa, china, amarelo).
Idoso (não: velho, decrépito, gagá, pé na cova).
Pobre, pessoa de baixa renda (não: pobretão, pé de chinelo, ralé, mulambento, raia miúda).
Pessoa com deficiência (não: portador de deficiência, deficiente físico, deficiente mental).
Religioso (não: papa-hóstia, igrejeiro, carola).
Travesti (não: traveco).
Conclusão
Vale o bom senso. Na dúvida, pergunte-se se a palavra ou a expressão podem ofender alguém ou reforçar preconceito. Se a resposta for sim, busque alternativa. Não é o caso de esclarecer, citada pelo TSE. Ela deriva de claro, que se opõe a escuro, que remete ao preconceito racial. É exagero, não?
Leitor pergunta
Usa-se a norma culta na fala? — Guilherme Haus, Brasília.
Ao respeitar as concordâncias, as regências, as pronúncias, as colocações, estamos usando a norma culta – a aprendida na escola e ensinada por dicionários e gramáticas. Quanto maior o domínio da língua, maior a liberdade do falante porque conquista a liberdade de optar entre isto ou aquilo. Só é livre quem pode escolher.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.