Sábado, 16 de novembro de 2024
Por Mário José Baptista | 14 de outubro de 2024
A taxa Selic está em 10,75% ao ano, valor fixado após a última reunião do Copom em 18 de setembro de 2024.
Foto: DivulgaçãoEsta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
O SETOR FINANCEIRO ESPECULATIVO mantém uma batalha sem tréguas e muito bem coordenada para arrancar da DIRETORIA DO BANCO CENTRAL (COPOM) novos e polpudos aumentos da TAXA SELIC. Ambicionam pelo menos a SELIC de 12% a.a. Com uma coordenação muito bem combinada encarrega-se de, semanalmente, transmitir ao BOLETIM FOCUS notícias catastróficas sobre: INFLAÇÃO; DÉFICIT PRIMÁRIO; CRESCIMENTO DO PIB; NÍVEL DE EMPREGO; etc.
O BOLETIM FOCUS, por sua vez, presta-se ao papel de “BONECO DO VENTRÍLOQUO”, levando, semanalmente as notícias terrificantes do “MERCADO” aos membros do COPOM, como se fossem verdades Divinas. E a recomendação do “MERCADO” para evitar os terríveis males que eles preveem que virão é o aumento da SELIC. É impressionante o caradurismo dos especuladores pela insistência no aumento da SELIC.
Dizem que o DÉFICIT PRIMÁRIO é o maior causador da DÍVIDA PÚBLICA DO TESOURO. Omitem intencionalmente que no caso brasileiro, se houver algum DÉFICIT PRIMÁRIO este ano será um dos menores causadores do AUMENTO DA DÍVIDA PÚBLICA, pois seu montante, se houver, chegará no máximo a 0,5% do PIB, quando o crescimento do PIB, este ano, será no mínimo, de 3,5%.
Silenciam completamente sobre a nociva consequência que a SELIC a 10,75% a.a., que representa JUROS REAIS de 6,5%, até agora. Os rentistas ainda almejam pelo menos mais 1% este ano.. Com 7,5% de JUROS REAIS, a DÍVIDA DO TESOURO sofrerá um acréscimo real de no mínimo R$ 562 bilhões, o que é vinte vezes maior que o possível DÉFICIT PRIMÁRIO que o “mercado” prevê de R$ 28 bilhões. Tentar conter o AUMENTO DA DÍVIDA DO TESOURO aumentando a SELIC é como tentar apagar um “grande incêndio aplicando mais gasolina ao fogo”.
Veja a incoerência e o alarmismo dos ditos “especialistas do mercado” que orientam o BOLETIM FOCUS induzindo a repetidos equívocos vergonhosos de suas previsões. Em março deste ano o BOLETIM FOCUS, consultando os “especialistas do mercado”, previu que o CRESCIMENTO DO PIB seria de 1,8% e a INFLAÇÃO de 5,6%. Ainda falta um trimestre para encerrar o ano e o PIB já cresceu 3%. Chegará no mínimo a 3,5% este ano, o dobro da previsão do “mercado”, segundo divulgação do BOLETIM FOCUS.
A INFLAÇÃO nos nove primeiros meses deste ano já medida pelo IBGE, está em 3,29%. No último mês de setembro a inflação foi de 0,44%, motivada essencialmente pelo AUMENTO DA CONTA DE ENERGIA ELÉTRICA (com a implantação da BANDEIRA VERMELHA CLASSE I, que representa um aumento de 4,46% na conta de luz), que acrescidos dos aumentos nos preços da CARNE DE GADO; LIMÃO; LARANJA e MAMÃO, todos motivados pela seca que atinge a maior parte do território nacional, reduzindo as águas das represas que movem as hidroelétricas do País e reduzem as produções de carnes e frutas desta estação.
A solução para esses problemas depende da chuva e não se resolvem com aumento da SELIC. Assim mesmo dá para afirmar que a INFLAÇÃO deste ano ficará abaixo de 4,5%, que é o teto fixado pelo CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL. Crescimento do PIB; aumento do EMPREGO e ganhos salariais muito além das expectativas do “mercado,” tiveram pouca influência no crescimento da inflação. Se não fosse a seca que atingiu os reservatórios das hidroelétricas, a pecuária é as frutas da estação, este ano a INFLAÇÃO ficaria ao redor de 3,5% a.a.
O que controla a INFLAÇÃO no Brasil e no mundo é o equilíbrio do abastecimento. E o abastecimento do mercado brasileiro só encarece com as atuais altas dos juros da SELIC, que são acrescentados aos custos dos produtos comercializados, agravando a inflação. Hoje, para a população brasileira, não é a INFLAÇÃO que deve gerar preocupação. Ela está se mantendo dentro da meta, sem risco de extrapolação.
A preocupação deverá ser com o elevado aumento da DÍVIDA DO TESOURO motivado pelos altos JUROS DA SELIC. Essa conta será paga pela nossa população através dos tributos arrecadados! Esses altos JUROS DA SELIC só beneficiam os ESPECULADORES que embolsam a maior parte dos ganhos do trabalho da maioria da população.
Continuamos aumentando os cinturões de miséria ao redor das grandes e médias cidades; baixo nível cultural da maioria do povo; deficiência na educação e na saúde públicas; péssima distribuição de renda, graças à política de manter a SELIC em altos percentuais desde 1995. Imaginem que em 1995 a DÍVIDA PÚBLICA DO TESOURO era só de 7,5% do PIB.
Hoje está acima de 73%, basicamente só pela capitalização dos juros da SELIC. Esses aspectos os “especialistas” que orientam o BOLETIM FOCUS não comentam. Vamos examinar a luz do mercado mundial qual a real importância dos JUROS PRIMÁRIOS ALTOS para conter a INFLAÇÃO. Neste século, nos ESTADOS UNIDOS; EUROPA; JAPÃO; CHINA; COREIA; SINGAPURA, ETC… na maioria do tempo os JUROS PRIMÁRIOS sempre estiveram bem abaixo da inflação de cada ano. E a inflação desses Países sempre esteve baixa.
Ao redor de 2% a.a. No Brasil, ao contrário, por mais de vinte e sete anos os JUROS DA SELIC estiveram, em média três vezes a inflação de cada ano e a INFLAÇÃO só se enquadrou nas metas estabelecidas pelo CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL a partir do momento em que passamos ao equilíbrio no abastecimento do mercado, quer por produção interna ou por importações, a partir do momento em que nos livramos do FMI e passamos a ter confortável colchão de RESERVAS CAMBIAIS para custear nossas importações.
Quais foram, efetivamente, os efeitos das ALTAS TAXAS DA SELIC?
RESPONDO:
– aumento da DÍVIDA DO TESOURO;
– concentração da maior parte da riqueza produzida na mão de especuladores, que passaram de 13% para mais de 35% do PIB;
– falta de recursos públicos para melhorias da saúde; educação; infraestrutura;
– pesquisa e segurança pública.
Apesar das imensas riquezas naturais de nosso País, graças a essa POLÍTICA FINANCEIRA mantida pelo BANCO CENTRAL desde 1995, continuamos muito atrás dos padrões de vida dos Países desenvolvidos antes citados. Vários deles começaram estes últimos trinta anos com desenvolvimentos econômicos inferiores aos nossos. Só para citar um exemplo: a CHINA em 1996 tinha o PIB igual ao do BRASIL. Hoje é oito vezes maior que o nosso. Isso é uma das consequências da POLITICA FINANCEIRA adotada pelo nosso BANCO CENTRAL, que com os JUROS ALTOS DA SELIC que vem praticando, desviou o potencial de investimentos do País do SETOR PRODUTIVO para o SETOR ESPECULATIVO.
Outra falácia é dizer que a principal causa da INFLAÇÃO é o DEFICIT PRIMÁRIO DE ARRECADAÇÃO. Para contestar essa afirmação trago o exemplo, este ano, dos ESTADOS UNIDOS, com DÉFICIT PRIMÁRIO de mais de US$ 2 trilhões e o JAPÃO com a maior DÍVIDA do mundo em relação ao PIB e, em ambos os Países, a INFLAÇÃO andam próximas aos 2%.
Ainda no JAPÃO o JURO PRIMÁRIO do BCJ está em 0,10% a.a. Nesses Países nem os DÉFICITs PRIMÁRIOS; nem os JUROS PRIMÁRIOS muito baixos, foram causas para aumento da INFLAÇÃO. A INFLAÇÃO nesses Países só aumentou quando houve desarranjo no abastecimento em consequência da COVID-19 e da guerra RÚSSIA X UCRÂNIA.
Será que a DIRETORIA do nosso BANCO CENTRAL não tem conhecimento desses dados da economia mundial? Não leem jornais? Só se orientam pelo BOLETIM FOCUS que é o porta-voz dos ESPECULADORES? Agora que a DIRETORIA DO BANCO CENTRAL adquiriu AUTONOMIA ADMINISTRATIVA e mandatos com PRAZO FIXO, assegurados por Lei, espero que mude o critério de ação deixando de só beneficiar os ESPECULADORES é passe a se preocupar com o crescimento do País, com a DÍVIDA DO TESOURO e o BEM-ESTAR da população.
Está já passada a hora de mudar essa visão equivocada de POLITICA FINANCEIRA por parte do BANCO CENTRAL e se alinhar com as práticas dos Países cujo progresso, crescimento econômico e bem estar do seu povo está muito acima de nós. Lembro que “errar é humano mas persistir no erro por tanto tempo é mais que burrice”! Mudança já! Chega de extorquir o povo em favor dos ESPECULADORES!
(Mário José Baptista é economista)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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