Terça-feira, 26 de novembro de 2024
Por Fabio L. Borges | 26 de novembro de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Existe um poeta em cada um de nós. Quando estou assim, sozinho, de madrugada, é como se eu pudesse viajar no tempo, olhando aqui para vocês, meus amigos, vendo fotos e fatos que me remetem a lembranças tão claras…
É como se eu estivesse revivendo aqueles momentos novamente. Então, mesmo que por um instante, me sinto poderoso e imortal, mas, ao mesmo tempo, vulnerável e impotente diante dessa poderosa força chamada tempo.
Tempo esse que me deu tantas alegrias, que me trouxe tantas tristezas e decepções, mas também me proporcionou prazeres e felicidades quase indescritíveis.
Como não amar essa vida? Como não ser grato por estar longe de tantas dores e dissabores deste mundo, que por tantas vezes taxamos de cruel?
Os amores que tive, os amigos e a felicidade que adentrou o meu coração em tantas ocasiões parecem fazer com que tudo tenha realmente valido a pena.
Então eu me pergunto: por que, às vezes, me sinto tão vazio? Será que é aquilo que os outros chamam de Deus? Será falta de amor, dinheiro, mulheres? Eu não sei…
Só sei que, quando comecei a escrever este texto, eu tinha 18 anos, e a coisa mais importante da minha vida eram os meus amigos. Faria tudo por eles, morreria por eles!
Mas, de repente, a máquina do tempo foi ativada, e quando percebi, eu já estava com 30.
O que houve? Onde estão os meus amigos? Casaram, tiveram filhos, cresceram ou se mudaram para longe?
Maldita máquina do tempo que me enganou. Corri atrás, fiz novos amigos, conheci outras mulheres, e quando menos esperava, enquanto aqui distraído digitava minha história para vocês, essa maldita máquina disparou de novo.
Corro, então, para saber o que aconteceu. Onde estão meus velhos e novos amigos?
O que fiz? Meu Deus… Não posso mais consertar os meus erros, não posso mais resgatar o meu amor…
Corro novamente para a sala, descendo as escadas. Olho para a rua e vejo, pela janela, a escuridão da madrugada, e percebo que estou com 46 anos.
Vou atrás de notícias desses amigos, parentes e amores que deixei para trás. E tento dizer o quanto eu os amo, e tudo que significam para mim. E isso dá certo por um tempo.
Encontro paz e amor novamente em meu coração, mas percebo que nada é igual. As coisas mudam…
E, em mais um momento de distração, a máquina do tempo se acionou, só que pela última vez, me levando 40 anos no futuro.
Eu tento levantar dessa cadeira, mas tá tão difícil… Meus ossos doem, meu corpo está cansado, pois agora estou com 86 anos. Só quero descansar em paz e te dar um último beijo.
A essa altura, só me restaram lembranças tão doces e tão boas quanto o orvalho de uma manhã de primavera.
Então eu me deito, peço a Deus para que acione novamente a máquina do tempo, pois não tenho mais como voltar. Pode ser em qualquer época: infância, adolescência ou fase adulta, desde que eu tenha consciência de quem sou, e saúde para começar tudo de novo.
Agora me deixem dormir… E quem sabe amanhã, acordar novamente…
*Fabio L. Borges, jornalista e cronista gaúcho
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.