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Colunistas A marcha da história e seus caprichos

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Por séculos, as instituições que dominaram a paisagem política, cultural e econômica da Europa estiveram ligadas à Igreja e a classe dirigente de monarcas e aristocratas. Foi somente no Renascimento que a autoridade papal foi desafiada pelas ideias humanistas e pelas descobertas científicas, fazendo desabrochar um novo período, no qual o direito de governar, dado por Deus ou herdado, passou a ser abertamente questionado, abrindo espaço para o surgimento da democracia republicana. O pensamento iluminista, já no século XVIII, veio a enfraquecer ainda mais as velhas instituições, dando fim definitivo às mesmas através das revoluções americana e francesa e a consolidação desse processo pela Revolução Industrial que se espalhou a partir da Grã-Bretanha.

Essa brevíssima recapitulação histórica expõe um dos períodos mais fecundos da moderna sociedade, e dialoga agora, não mais com reis e papas no comando, mas com uma enorme fragmentação social e política. Nesse quadro de incertezas, analistas e pesquisadores custam a antever quais peças, desse intrincado tabuleiro geopolítico, estão se movimentando em quais direções e com que aspirações, especialmente após as últimas eleições americanas. Até onde, nesse contexto, a eleição de Donald Trump poderá significar o retrocesso anunciado, como dizem seus críticos, apenas uma bolha de sabão na longa marcha histórica dos grandes eventos, como afirmam os institucionalistas, ou a América Grande de Novo, como esperam a confiam os fiéis republicanos?

As apreensões mais sinceras, as esperanças mais judiciosas e as especulações mais desatinadas compõem hoje um quadro futuro incerto que muitos buscam deslindar, provavelmente sem êxito. As forças históricas, aliás, tão ou mais imprevisíveis que o novo ocupante da Casa Branca, se movem e nos movem indiferentes a múltiplos prognósticos. Foi assim durante boa parte do século XX, quando prevaleceram concepções que realçaram os grandes movimentos, incluindo os marxistas, o materialismo histórico e sua luta de classes, a historiografia de Lucien Febvre e Marc Bloch, e a incorporação das Ciências Sociais à história. A visão positivista não respondia mais à efervescência daquele momento. Era preciso ampliar o leque de visão em processos de mais longa duração para compreender e até antecipar os eventos. Nesse campo de novas perspectivas, o estudo da geopolítica adquiria novos contornos, com a incorporação de topografia, clima e demografia como elementos fundamentais de análise. Nesse esforço intelectual amplo para sondar o amanhã e extrair do passado ensinamentos práticos, os institucionalistas, por seu turno, destacaram o papel das estruturas, como tipo de governo, grau de liberdade e eficiência do Judiciário para a compreensão da marcha histórica.

Todas as escolas citadas e tantas outras que se ocupam em investigar o futuro produziram boas análises, com grande poder explicativo e insights igualmente úteis. Mas, obviamente, isso não é tudo e o atual momento, excepcionalmente mais fragmentado e instável em relação ao passado, promete ainda mais trabalho aos estudiosos da matéria. Hoje, uma das maiores dúvidas reside no quanto prevalecerá a “teoria do grande homem”, assumindo-se que apenas um indivíduo seja capaz de mudar a história, ou se prevalecerão as forças institucionais de contenção legal de eventuais arroubos à moda totalitária, agora intempestivamente entre nós. O que sabemos, contudo, conforme os achados dos cientistas que estudam os sistemas complexos, é que pequenas variações podem produzir resultados dramáticos e isso vale também para a história. A propósito, para nosso desassossego, os sinais vindos dos EUA são pouco sutis e nada fazem para não parecer estridentes, o que sugere que fatores ainda mais caprichosos podem estar desenhando nosso futuro neste exato momento e há pouco que possamos fazer.

(edsonbundchen@hotmail.com)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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