Quinta-feira, 13 de março de 2025
Por Redação O Sul | 17 de fevereiro de 2024
Faltando menos de um mês para a eleição presidencial na Rússia, quando Vladimir Putin – no poder há quase 25 anos e que concorre apenas com candidatos de fachada aprovados pelo governo – deve abocanhar mais um mandato de seis anos, seu principal opositor agora está morto. Esse contexto político é alvo de críticas a acusações pela comunidade internacional.
O advogado e ativista Alexei Navalny, 47 anos, teve confirmado o seu falecimento no complexo prisional remoto na gelada região do Ártico. O anúncio, na sexta-feira (16) foi feito em meio aos preparativos oficiais para a ida dos russos às urnas, nos dias 15, 16 e 17 de março. Não faltam acusações de países ocidentais sobre um suposto envolvimento de Putin na morte de seu detrator.
Entre analistas externos, é praticamente unânime a projeção de que Putin, no comando desde 1999 (incluindo um breve período como primeiro-ministro), obterá ampla margem de votos. Tecnicamente, Putin não poderia concorrer a mais um mandato.
Em 2020, chegou a propôr mudanças na Constituição, permitindo a transferência de poderes presidenciais para o Parlamento e para o primeiro-ministro, em um movimento que chegou a ser interpretado como o primeiro passo para sua saída do poder. Mas não. Em abril daquele mesmo ano, um pacote de mudanças na lei foi aprovado em referendo, incluindo a possibilidade de mais dois mandatos a Putin, incluindo o pleito que se aproxima.
O secretário de Imprensa, Dmitry Peskov, disse que a agenda apertada do presidente não permite que participe de atos com eleitores ou comícios. Ele tampouco estará em debates com seus adversários — a certeza de vitória é tamanha que Peskov já indicou algumas das viagens que Putin deve fazer após eleito, incluindo Turquia e Coreia do Norte.
Nos últimos 24 anos, Putin participou de quatro eleições, e jamais foi para o segundo turno. O pior resultado aconteceu justamente na primeira delas, em 2000, quando já ocupava interinamente a Presidência, e recebeu 53,4% dos votos, enfrentando o comunista Gennady Zyuganov.
Impedido de concorrer em 2008, fez de seu então primeiro-ministro Dimitry Medvedev o candidato e vencedorm com 71,2% dos votos (novamente contra Zyuganov). Já em 2012, Medvedev chegou a sinalizar a intenção de concorrer à reeleição, mas foi rapidamente dissuadido por Putin, que embora ocupasse o cargo de premiê ainda estava à frente de decisões cruciais de governo.
Na última eleição, Putin recebeu 77,53% dos votos, e agora ele espera superar os 80%, segundo seus apoiadores mais próximos. E se há seis anos a “novidade” era a votação na Crimeia (anexada em 2014), as autoridades russas prometem levar urnas para outras regiões ocupadas da Ucrânia, como Donetsk e Luhansk.
O governo vizinho (e adversário) afirma que todos os votos depositados serão nulos, e promete processar qualquer observador — russo ou estrangeiro — que ali estiver.
“Concorrentes”
Pelo Partido Comunista, foi aprovado o nome de Nikolai Kharitonov, de 75 anos, que desde 1994 ocupa um assento na Duma, a Câmara baixa do Parlamento. Ele já concorreu contra Putin em 2004, quando recebeu 9,4 milhões de votos.
Como parlamentar, seguiu a linha dúbia do Partido Comunista, oficialmente de oposição mas votando com os governistas em projetos cruciais, como o reconhecimento das independências das Repúblicas de Donetsk e Luhansk, na Ucrânia, movimento que antecedeu a invasão do país vizinho. Por conta de seu apoio ao projeto, foi incluído em listas de sanções dos EUA e União Europeia, acusado de “cumplicidade na guerra de Putin”.
Pelo Partido Liberal Democrático da Rússia (de extrema direita), Leonid Slutsky comanda a comissão de Relações Exteriores da Duma, e é uma das faces mais conhecidas do país no exterior, não necessariamente por suas habilidades diplomáticas.
Contra ele pesam alegações de assédio sexual e enriquecimento ilícito – caso revelado por Alexei Navalny. No início da guerra, liderou as infrutíferas negociações de paz com Kiev e posteriormente disse que o conflito era contra o “fascismo moderno” da Ucrânia. Slutsky aparece em listas de governos ocidentais desde 2014, quando a Crimeia foi anexada.
Por fim, a legenda Novo Povo, de centro-direita, apresenta Vladislav Davankov como alternativa e chegou a expressar alguma oposição inicial à guerra, mudando de ideia posteriormente. Igualmente alvo de sanções da União Europeia e Estados Unidos, ele mantém ótimos laços dentro do Kremlin e ajudou a relatar propostas importantes para a recente onda conservadora de Putin.