Sábado, 23 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 5 de abril de 2021
Embora subestimada pela elite da MPB, a sonoridade dos discos da Jovem Guarda vem influenciando gerações há 56 anos desde que começou a ser cristalizada em 1965. Parte dessa influência vem de dois músicos fundamentais na arquitetura dessa sonoridade perpetuada em álbuns de Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléa e de outros ídolos do primeiro movimento pop do Brasil. Dois músicos cariocas coincidentemente nascidos no mesmo ano de 1943.
Um foi o guitarrista Renato Barros, líder do grupo Renato e seus Blue Caps. Morto em julho de 2020, Renato Barros foi herói da guitarra – turbinada com os efeitos do pedal fuzz – no exército da juventude brasileira dos anos 1960.
O outro músico foi Lafayette Coelho Varges Limp (11 de março de 1943 – 31 de março de 2021), pianista e tecladista carioca que ajudou a delinear a assinatura do som da Jovem Guarda com o toque de órgão Hammond B3 ouvido em mais de 50 discos de artistas associados ao movimento. Órgão que, a partir de hoje, ficará somente nesses discos e nas memórias afetivas de quem viu o músico em cena no comando de bailes.
Aos 78 anos, Lafayette morreu na madrugada desta quarta-feira, 31 de março, vítima de infarto sofrido em hospital da cidade do Rio de Janeiro (RJ) onde dera entrada para tratar de pneumonia. A morte do artista foi confirmada pela viúva de Lafayette, Esmeraldina Dias Varges Limp, em rede social.
Basta ouvir as gravações originais das músicas Quero que vá tudo pro inferno (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1965) – hino da Jovem Guarda que consolidou definitivamente a carreira então ascendente de Roberto Carlos – e Coração de papel (Sérgio Reis, 1966) para perceber a marca do órgão de Lafayette nos discos da Jovem Guarda lançados a partir de 1965.
Lafayette chegou até Roberto Carlos através de Erasmo Carlos, que tinha gravado disco em 1964 com o toque do organista e gostara tanto do que ouviu que recomendou o músico para o amigo de fé e irmão camarada.
Aprovado por Roberto, com quem gravaria regularmente até o fim dos anos 1960, o músico ganhou também o aval fundamental de Evandro Ribeiro, diretor centralizador da CBS, gravadora que mantinha sob contrato a maior parte dos ídolos da Jovem Guarda. Começou então a escalada de Lafayette dentro dos estúdios, mas não somente como acompanhante.
A sonoridade do órgão do tecladista era tão marcante que, após álbum inicial dedicado em 1965 à mulher Dina Lúcia, o artista começou a gravar a série de discos Lafayette e os sucessos, com abordagens instrumentais de hits da época. A série rendeu 20 volumes editados de 1966 a 1978 pela gravadora CBS, na qual Lafayette permaneceu até 1980, até ser dispensado e ter que gravar em companhias fonográficas de menor peso no mercado, como as já extintas Copacabana e Continental.
Mesmo com menor regularidade, Lafayette gravou discos até o fim da década de 1980, amargando nos anos 1990 um período de menor visibilidade que somente seria encerrado quando, nos anos 2000, músicos cariocas da nova geração pop – fãs assumidos da Jovem Guarda – reabilitaram o organista com a criação em 2004 de grupo, Lafayette e os Tremendões, centrado na figura do tecladista.
Com Érika Martins (voz), Gabriel Thomaz (guitarra e voz), Melvin Ribeiro (baixo e voz), Nervoso (guitarra e voz), Raphael Miranda (bateria) e Renato Martins (guitarra e voz), Lafayette gravou dois álbuns, As 15 super quentes de Lafayette & Os Tremendões (2009) e A Nova Guarda de Lafayette & Os Tremendões (2015), este somente com músicas inéditas. Esses discos representaram fachos de luz em trajetória então já crepuscular.
Pianista de formação clássica, Lafayette começou a estudar piano na infância. Na adolescência, ouviu o chamado juvenil do rock’n’roll e se juntou, como músico, à celebre turma roqueira que se aglutinava na Rua do Matoso, no bairro carioca da Tijuca. Roberto, Erasmo, Jorge Ben e Tim Maia (1942 – 1998) integravam a lendária turma.
Nessa época seminal, Lafayette integrou conjuntos como Blue Jeans Rock e Sambrasa. Contudo, a vida do organista somente começou a mudar, de fato, quando a gravadora RGE o convidou para tocar no álbum de Erasmo Carlos em 1964.
O resto faz parte da história do pop brasileiro, construído ao longo da década de 1960 com a marca inconfundível do órgão de Lafayette Coelho. Som eternamente jovial que ainda influencia e encanta gerações. As informações são blog do Mauro Ferreira, do portal de notícias G1.