A Microsoft anunciou que usuários poderão ter acesso a aplicativos destinados ao Android, do Google, e ao iOS, da Apple, nos dispositivos da empresa. Os desenvolvedores agora poderão reutilizar o código de aplicativos para plataformas mais populares – como o jogo “Candy Crush”, da desenvolvedora King – e depois torná-lo um aplicativo para a Microsoft. A medida é a mais recente indicação de que o diretor-executivo, Satya Nadella, pretende tornar sua Microsoft mais flexível e mais humilde.
Sua visão da companhia tem mais a ver com a possibilidade de ter influências em variadas áreas de operações, do que dominar cada mercado individualmente. De certo modo, a gigante tecnológica quer chegar aos consumidores e às empresas onde eles se encontram – e, pelo menos no mundo da telefonia celular, nem sempre será em dispositivos Microsoft. Por isso, em vez de continuar prendendo indissoluvelmente seu software e hardware – estratégia que somente a Apple conseguiu aplicar com sucesso de maneira sustentada –, a Microsoft quer ser o lugar ao qual o usuário recorre quando quer abandonar o tradicional. A companhia anunciou ainda que tornará mais fácil carregar o código dos aplicativos da internet e do computador de mesa para o Windows 10.
Em uma apresentação durante a conferência de desenvolvedores da companhia em São Francisco (EUA), Nadella se referiu à nuvem, aos aplicativos para celulares e ao Microsoft Office como os três pilares do seu projeto para tornar a empresa o lugar mais procurado. Na conferência, desenvolvedores e gerentes de projetos apresentaram programas da Microsoft, inclusive alguns do seu importante OfficeSuite, que rodam nos Macs e no Linux.
Os investidores aparentemente não sabem o que fazer com os anúncios da companhia. As ações caíram levemente – uma queda de cerca de 0,5%, para 48 dólares – durante a apresentação.
Ao mesmo tempo, os analistas acham que a Microsoft deveria ir com calma. “A decisão de adotar os aplicativos para Android e iOS é uma solução imperfeita para um problema indesejável”, disse Geoff Blaver, vice-presidente das Américas, da CCS Insight. “Entretanto, é necessário agir para atrair os desenvolvedores que, do contrário, iriam para a Apple e o Google.”
Levar aplicativos de uma plataforma para outra, “sem nenhuma modificação, não é uma estratégia viável para a criação de aplicativos de grande qualidade”, observou Al Hilwa, analista de tecnologia do grupo de pesquisa IDC (International Data Corp). Entretanto, prosseguiu, admitir que os desenvolvedores trabalhem em diferentes plataformas é “um aspecto importante da nova estratégia da Microsoft”.
A gigante da tecnologia acaba de registrar um trimestre forte em que superou as expectativas dos analistas em termos de faturamento e lucro, em grande parte graças ao sucesso da empresa na área de computação em nuvem, o departamento que Nadella dirigia antes de assumir o posto mais alto em 2014.
Mas, mesmo nesta área crucial, na qual a Microsoft enfrenta Google, IBM e Amazon, Nadella deixou claro que está satisfeito por ter conseguido fazer com que a Microsoft possa coexistir com outros serviços, em lugar de tirar os outros concorrentes do caminho. Em uma reunião com analistas, respondendo à pergunta se estava preocupado com o Amazon Web Services, enfatizou que muitos clientes usam este serviço juntamente com o Azure da Microsoft. (O fundador da Amazon, Jeff Bezos, é também o proprietário do jornal Washington Post. (AE)