Segunda-feira, 03 de março de 2025
Por Carlos Roberto Schwartsmann | 8 de novembro de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Todas as áreas do conhecimento humano foram beneficiadas com o maior avanço tecnológico da nossa história que verificamos nos dias de hoje, entretanto tenho ainda muita dúvida do benefício que ela agregou a velha medicina!
O avanço tecnológico nos auxiliou muito no armazenamento, no depósito e na transferência de dados médicos. As imagens confirmam com mais precisão e detalhamento o nosso presuntivo diagnóstico médico. Mas no tratamento do paciente como um todo, na evolução da relação médico-paciente, talvez tenha interferido negativamente.
O paciente desinformado ou informado pela mídia leiga ou pelo Google acredita que as novas tecnologias são fundamentais para o diagnóstico e a cura das doenças.
O médico atual, formado em faculdades sem cadáveres e sem hospital-escola, para compensar seu conhecimento supérfluo e distorcido, se tornou refém dos exames sofisticados atuais. Com concordância do paciente, hoje há uma troca dos pilares da medicina (história clínica, exame físico) pelos exames laboratoriais e de imagem.
Frequentemente administro aulas práticas da minha especialidade (a ortopedia é a especialidade mais rica em imagens de toda medicina) de aproximadamente 2 horas sem recorrer a um único exame complementar ou subsidiário.
Fico estarrecido quando os jovens alunos, se encaminhando para o término da formação, relatam que nunca aplicaram uma injeção na nádega ou tiveram oportunidade de suturar!
Voltando a crítica ao endeusamento da tecnologia, lembro a eles que a simples presença do computador no consultório médico mina o processo de solidificação da relação médico-paciente. Não é possível o médico olhar o computador e os olhos do paciente simultaneamente.
O olhar médico focado no olhar do paciente transmite comprometimento, interesse, parceria, solidariedade e compaixão. Este gesto está sendo substituído pelo visual da tela fria, quadrada e insensível do visor do computador.
Também os toques dos dedos dos médicos que realizam manobras de palpação e percussão estão sendo substituídos pelos toques nos teclados. Ainda, as mãos dos médicos são fontes de calor, carinho e afeto. São fontes de confiança!
Como na velha medicina: os doentes ainda querem ser ouvidos, tocados, palpados e examinados.
A tecnologia avança com rapidez fantástica, mas os pacientes continuam os mesmos!
Carlos Roberto Schwartsmann – Médico e Professor universitário
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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