Sexta-feira, 15 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 19 de outubro de 2019
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Esse é Trump: engabelou Bolsonaro com a promessa de apoio ao ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico-OCDE. Na última hora, sem aviso, preteriu o nosso País em favor da Argentina e da Romênia. As oposições no Brasil e os críticos de Bolsonaro comemoraram o conchavo mal sucedido.
Quando Trump fez a promessa, Bolsonaro e o ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo correram para o abraço, apresentando ao distinto público a versão de uma façanha inestimável, vitória maiúscula só possível por causa da amizade quase íntima entre os dois presidentes.
Não foi tão grave, apenas uma barbeiragem, uma avaliação afoita de amadores e deslumbrados: a diplomacia de um país como os Estados Unidos não se faz em encontros privados de governantes, por mais amigos que possam ser. E nem se ganham posições bajulando os poderosos. Mas que doeu, doeu, o que sempre acontece quando a gente cai na real.
O presidente Donald Trump tentou remendar, reiterando o apoio para as próximas rodadas do jogo. Deveríamos deixar para lá. De que nos pode servir um organismo em que Argentina e Romênia estão na nossa frente?
O atual governo definitivamente não gosta de ONGs. Alguma razão há. As ONGs têm seu valor e importância, mas uma boa parte delas só existe para fiscalizar – permissão que elas mesmas se outorgam – atividades públicas e privadas e denunciar as mazelas do nosso tempo. Mas o seu papel se reduz ao comentário geral, do que se deve e do que não se deve fazer. Produzem documentos, assinam denúncias, distribuem notas e panfletos, atacam os vilões do meio ambiente, os poderes estabelecidos, os beneficiários da acumulação do capital. E vivem à sombra protetora das verbas públicas.
Essas organizações geralmente são compostas de jovens idealistas. Mas hoje em dia, diante dos índices alarmantes de desemprego no país, aprecio mais o papel do dono da padaria do meu bairro. Ele acorda todos os dias antes do sol nascer, trabalha até as dez da noite, inclusive nos sábados, domingos e feriados e gera, contra toda sorte de obstáculos e dificuldades, oito preciosos postos de trabalho.
Para o governo Bolsonaro, e na voz dele próprio, talvez tenha sido a Venezuela que espalhou óleo nas praias do Nordeste. Ou as ONGs. Ou sabe-se lá quem, talvez o óleo tenha origem em um naufrágio. Tudo é dito assim, de passagem, sem nenhuma evidência – toda semana muda a versão para o desastre ecológico. Não se desperdiça ocasião para desabonar e até criminalizar as ONGs. Nas queimadas da Amazônia, o governo também as incluiu entre os suspeitos de sempre.
Nesta semana Bolsonaro, de viva voz, diante do volume crescente de drogas apreendidas, comemorou dizendo que (a ação do governo) “retirou o sustento de partidos e grupos terroristas”. Que partidos, que grupos terroristas? Isso de alguma forma envolve partidos ou grupos em funcionamento no Brasil? Os bolsonaristas em geral acreditam que sim. A insinuação maldosa e irresponsável, a declaração abrangente, sem evidências que a fundamentem, é um método de ação política dos mais primários e enganosos: “fake news” de gente que se acha esperta.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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