Segunda-feira, 10 de março de 2025
Por Redação O Sul | 5 de maio de 2019
Procuradores da força-tarefa da Operação Lava-Jato do Rio de Janeiro encontraram indícios de que uma multinacional francesa do ramo de energia pode ter pago propina para o almirante da reserva e ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. Documentos fornecidos por autoridades suíças indicam que a propina pode ter sido intermediada pelo doleiro Jorge Luz, um conhecido operador do MDB. A defesa de Othon nega o envolvimento dele em irregularidades.
Considerado um dos “pais” do projeto nuclear brasileiro, Othon Luiz Pinheiro foi presidente da Eletronuclear entre 2005 e 2015. Em agosto de 2016, ele foi condenado a 43 anos de prisão. Segundo a sentença, ele recebeu propina paga por empreiteiras brasileiras que foram favorecidas com contratos junto à Eletronuclear, responsável pelas usinas nucleares de Angra 1, 2 e 3. A Areva, que foi vendida no ano passado e hoje se chama Framatome, foi uma das principais fornecedoras da Eletronuclear, inclusive das obras para a construção de Angra 3, iniciadas durante a ditadura militar e retomadas em 2010.
Em 2013, por exemplo, ela assinou um contrato com a Eletronuclear, ainda sob a gestão de Othon, no valor de 1,25 bilhão de euros (o equivalente a cerca de R$ 5,2 bilhões) para fornecer instrumentos digitais, equipamentos e sistemas de controle para a usina. Relatórios enviados por autoridades suíças à força-tarefa da Lava-Jato no Rio mostram que duas contas mantidas na Suíça associadas a duas filhas de Othon foram abastecidas por depósitos feitos por Jorge Luz. As filhas que seriam beneficiárias das contas são Ana Cristina Toniolo e Ana Luiza Barbosa da Silva Bolognani.
Uma dessas contas, aberta em nome da offshore Delarosa Properties, era mantida no banco Lombard Odier. Entre 2006 e 2009, ela recebeu depósitos de uma outra offshore, a Total Tec Power, que tinha uma conta mantida no banco francês Credit Suisse. A conta da Total Tec Power, segundo as investigações, tinha como beneficiário Jorge Antônio da Silva Luz, apontado como um dos principais operadores de pagamento de propina do MDB.
Os investigadores da Lava-Jato descobriram também que uma segunda offshore, a Waterfront Overseas S.A, cuja beneficiária seria Ana Cristina da Silva Toniolo, recebeu depósitos da Total Tec Power no mesmo período em que recebeu depósitos da Areva. Uma fonte ligada às investigações no Brasil confirmou que os indícios apontam para uma possível intermediação de dinheiro de propina passando por Jorge Luz até chegar a Othon Pinheiro e suas filhas. Os investigadores afirmam que os indícios apontam para que essa suposta propina esteja relacionada a contratos firmados entre a Areva e a Eletronuclear.
A fonte disse ainda que as investigações sobre o possível pagamento de propina feito pela Areva ainda estão em estágio inicial.