O ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) e a OIM (Organização Internacional de Migração) acreditam que a volta dos venezuelanos que saíram do seu país, que cifram em 3,4 milhões, “vai demorar muito” a acontecer, e depende de uma “solução política interna”.
Em entrevista coletiva em Buenos Aires, o representante especial da OIM e do ACNUR para os refugiados e migrantes venezuelanos, Eduardo Stein, afirmou que, embora pelo seu papel não devem intervir, é “absolutamente essencial” manter-se “alerta” à evolução da agenda política, porque “deter o fenômeno no médio e no longo prazo depende de uma situação política interna na Venezuela”.
O político guatemalteco também disse que para ambas agências “está muito claro” que, mesmo após uma solução no país caribenho em um relativo curto prazo, o retorno dos milhões de emigrados “vai demorar muito”.
“Não vão retornar todos os que saíram, nem aqueles que queiram retornar vão fazer isso com a mesma velocidade com a qual se viram forçados a sair”, declarou.
Em seguida, Stein opinou que uma piora da crise política “pode agravar a pressão para que novamente aumentem os fluxos de população para fora”.
A OIM e o ACNUR publicaram na semana passada um estudo no qual cifraram em 3,4 milhões o número de venezuelanos que abandonaram seu país, dos quais 2,7 milhões se encontram em outras nações latino-americanas.
Além disso, calcularam a saída diária de 5.000 pessoas, razão pela qual projetam que o número de migrantes alcançará 5,3 milhões no final deste ano.
Para fazer frente a este problema, as duas agências pediram em dezembro do ano passado US$ 738 milhões, uma quantia à qual “pouco a pouco se está chegando”, segundo Stein.
De acordo com os dados do ACNUR e da OIM, a Colômbia é o principal país de amparada, com 1,1 milhão de imigrantes e refugiados venezuelanos, seguida por Peru (506.000), Chile (288.000), Equador (221.000), Argentina (130.000) e Brasil (96.000).
Escritório de petrolífera transferido
A Rússia, aliada do ditador venezuelano, Nicolás Maduro, prometeu nesta sexta-feira (1º) continuar com sua ajuda humanitária à Venezuela, enviando especialmente medicamentos.
“A Rússia continuará ajudando as autoridades da Venezuela a resolver as dificuldades econômicas e sociais, inclusive mediante a concessão de ajuda humanitária legítima”, declarou o ministro das Relações Exteriores, Serguéi Lavrov, após encontro com a vice-presidente Delcy Rodríguez.
Em sua visita a Moscou, a vice-presidente venezuelana afirmou que “Maduro instruiu que o escritório de petróleo da Venezuela na Europa, que se encontra em Lisboa, seja transferido a Moscou”.
“É uma forma de garantir nossa cooperação”, afirmou.
Delcy Rodríguez reiterou seu “agradecimento ao presidente Putin […] e ao povo russo por todo o apoio”.
“Maduro deu instruções muito claras de que o povo da Venezuela precisa de alimentos, e que serão adquiridos da Rússia”, acrescentou.
Lavrov disse que a Rússia enviou “um primeiro lote de 7,5 toneladas de medicamentos” com destino à Venezuela. Moscou estuda um novo envio de remédios, pedido por Caracas, nos próximos dias.
“Recebemos uma lista suplementar de medicamentos que o governo venezuelano desejaria obter. Estamos examinando-a, esclarecendo os detalhes e verificando os detalhes logísticos”, afirmou o ministro.
Lavrov disse que a Rússia realiza “envios maciços de trigo” à Venezuela “que ajudam enormemente o governo venezuelano a superar os desafios humanitários atuais”.
A Rússia tem interesses econômicos e estratégicos no país de Maduro. O governo de Vladimir Putin estabeleceu laços militares já na época do antecessor do ditador, Hugo Chávez, e os mais eficazes equipamentos bélicos venezuelanos são de origem russa.
Moscou investiu e se tornou sócia da indústria de hidrocarbonetos do país, que tem algumas das maiores reservas de petróleo do mundo. Além disso, interessava a Putin manter um pé no “quintal” geopolítico dos EUA.
A preocupação é tanta que o Comando Sul das Forças Armadas americanas elenca a presença de Rússia e China na Venezuela como um dos maiores riscos para os interesses de Washington na região. A eleição de Jair Bolsonaro no Brasil trouxe mais um aliado de peso regional para a esfera americana, que contava até então com a Colômbia para enfrentar Maduro.