Sábado, 26 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 4 de abril de 2021
Não faltaram opções de novos smartphones no Brasil em 2020: teve o iPhone 12, o Galaxy Fold 2 e linhas populares da Motorola e Xiaomi — e, no começo deste ano, já temos o Galaxy S21 e o Moto G100. Para muita gente, porém, o período de pandemia não foi o momento para trocar de smartphone. Com a alta do dólar, a crise econômica e as incertezas causadas pela covid-19, 2020 foi o ano do celular velho no País. Não apenas houve um encolhimento do mercado de smartphones novos: quem precisou substituir passou a olhar com mais carinho para aparelhos usados.
A desconfiança do consumidor se justifica. Em 2020, houve uma tempestade perfeita sobre o mercado de smartphones no Brasil. A alta do dólar, de quase 30% no acumulado do ano, começou a ser repassada para os celulares — mesmo quando montados no País, os aparelhos contam com componentes importados, como chips de processamento e de memória. Um exemplo é o Moto G Plus, da Motorola. Em 2019, o Moto G8 Plus custava R$ 1,7 mil. No ano passado, o Moto G9 Plus foi lançado por R$ 2,5 mil. Agora, o Moto G100, o “substituto” do Plus, chega por R$ 4 mil. Claro, a cada nova geração, os fabricantes incluem componentes mais novos, normalmente mais caros, mas as marcas admitem que o aumento atual está atrelado à alta da moeda americana.
Além disso, a pandemia jogou muitas incertezas sobre a economia. A taxa de desemprego chegou a 13,5%, o que também fez o consumidor repensar compras de eletrônicos. O resultado disso foi a queda nas vendas de celulares novos. Segundo a consultoria IDC, o mercado de smartphones encolheu 8% em 2020 (a última vez que houve retração no País foi em 2018, também de 8% ante o ano anterior, e 2019 viu uma alta de 8,8%). E poderia ter sido pior: no início da pandemia, as projeções eram de retração de 19% nas vendas. Segundo Renato Meireles, analista da IDC Brasil, o auxílio emergencial ajudou a amenizar a queda.
“O preço de um celular novo é comida para dois meses em casa”, diz Josyel Araujo, 27. O professor de educação física trabalhou como entregador de app durante a pandemia e comprou dois celulares usados no período: um para trabalhar, mais exposto à rua e sem seus dados pessoais cadastrados, e outro para uso pessoal, que ficava em casa e tinha contas de banco e outras informações.
Necessidade
Por outro lado, a pandemia forçou a população a encarar a digitalização de serviços como alimentação, educação e entretenimento, aumentando a demanda por dispositivos de tecnologia. Por motivos profissionais e pessoais, ter um celular conectado virou requisito mínimo para atravessar o período. Mas, em tempos de vacas magras, as pessoas preferiram aparelhos de segunda mão, em um movimento que lembra o setor automotivo.
A fotógrafa manauara Caroline Lins, 22, optou por esse caminho. A pandemia impediu que ela realizasse ensaios de fotografia presencialmente e, em isolamento, ela usa o Facetime, recurso de videochamadas do iPhone, para guiar os seus modelos em poses e iluminação. O problema é que, com uso mais intenso do smartphone, a memória de 32 GB do seu iPhone 6S, aparelho lançado em 2015, não dava conta do espaço de novas fotos tiradas. Era preciso trocar de aparelho.
A escolha foi simples: em vez de correr atrás de um aparelho novo, ela preferiu investir em um usado. “Pensei que, se eu pesquisasse, poderia fazer um bom negócio e economizar uma boa grana”, conta. No fim, ela comprou de um vendedor autônomo um iPhone 8 de 256 GB, a capacidade máxima do modelo. Na transação, Caroline diz que economizou cerca de R$ 1 mil perto do preço vendido em aparelhos novos no varejo.
A escolha por aparelhos usados foi sentida por quem atua nesse mercado. Fundada em 2014, a startup Trocafone viu as vendas de aparelhos crescerem em 60% no ano passado em comparação com 2019. A expectativa para 2021 é continuar o crescimento na casa dos dois dígitos, sem a empresa especificar qual é a projeção.