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A pandemia mudará Hollywood para sempre: as previsões do futuro segundo cinco roteiristas e atores

Profissionais falam que gêneros, enredos e maneiras de contar histórias poderão surgir da era da Covid-19. (Foto: Reprodução)

A pandemia de Covid-19 determinou a que a cultura pop será posta de lado indefinidamente. Tenet, o thriller de Christopher Nolan que deveria levar as pessoas de volta aos cinemas esta semana, foi adiado mais uma vez.

Estúdios estão avaliando como poderão voltar a filmar em segurança, em se tratando de um processo que envolve a reunião de grandes grupos de pessoas em espaços confinados por períodos prolongados. O resultado talvez venha a ser não apenas um período sem blockbusters e sem pipoca, mas uma temporada de televisão sem novas séries e uma temporada de Oscar sem ninguém competindo pelas cobiçadas estatuetas douradas.

Cinco roteiristas e atores falaram que gêneros, enredos e maneiras de contar histórias poderão surgir da era da Covid-19.

Stephany Folsom – roteirista de “Toy Story 4”

“Quando sairmos do outro lado da pandemia, precisaremos compreender tudo aquilo por que passamos e o que significa. Desconfio que iremos assistir a muitos filmes de suspense paranoicos, como o que vimos nos anos 1970 quando os Estados Unidos deixaram o Vietnã e depois a desconfiança nos governos pós-Watergate. Veremos muito disso nas nossas histórias e ao colocar para fora como estamos reagindo à situação com os nossos governos federais e locais.

Acho que veremos também muito body horror (sub-gênero que mostra violações ao corpo humano) porque é o lugar seguro para explorar todo este medo que cultivamos a respeito da nossa saúde e da nossa segurança. Não acredito que as pessoas queiram ver drama parecido semelhante, porque experimentamos tudo isto na carne…”

Zack Stentz – roteirista de “Thor”

“Neste exato momento, estou fazendo a revisão do meu filme, e, embora não contenha ameaças virais, o meu roteiro fala fundamentalmente de adolescentes que se reúnem depois de uma longa separação forçada, tentando entender se continuam amigos depois do tempo em que estiveram separados.

Minha esperança é que os espectadores, principalmente os mais jovens, ao perceberem seus próprio embates emocionais refletidos nos personagens se deem conta de que não estão sozinhos, e que os seus sentimentos e dificuldades são reais e importantes, mas também coisas que podem ser superadas ou com as quais poderão conviver, sejam eles causados por um vírus invisível ou por aliens ameaçadores.”

Aisha Tyler – estrela de “24 horas”

“Fazer cinema e televisão é algo fundamentalmente íntimo: centenas de pessoas trabalham em lugares fechados por longas horas para produzir os espetáculos e filmes que não cansamos de ver e amamos. A pandemia de Covid-19 acabou com este paradigma: imaginem fazer uma comédia romântica em que não se possa beijar, ou um filme de horror em que o assassino fica a um metro e meio de distância da vítima. Em uma cidade que acredita saber tudo a respeito de tudo, você sempre acaba pisando em território inexplorado.

Para mim, pessoalmente, isto significou projetos em iPhones com equipes técnicas reduzidas a um pequeno grupo de pessoas, trabalhando rapidamente e deixando que momentos inesperados dominem o trabalho. Durante o fechamento, filmei muitos projetos digitais em uma fração do tempo que eles costumam tomar (empregando as melhores medidas de prevenção) – alguns em uma única tarde. E estou desenvolvendo vários projetos mais longos que mergulham profundamente nas questões de raça, gênero e identidade em um contexto mais enxuto.”

Adam Pally – astro de “Finais Felizes”

“Meu instinto é reconhecer a pandemia nos meus roteiros e na minha comédia, sem contudo focá-la demais. Acho que, quando o mundo passa por algo semelhante a tudo isto ao mesmo tempo, torna, de início, a dramaturgia um pouco mais universal. Podemos encontrar empatia no que parece ser socialmente distante. Por isso podemos criar empatia  com personagens em histórias ambientadas durante este tempo. Isto cria condições de igualdade de uma maneira em que haverá mais pessoas compartilhando de perspectivas semelhantes, o que significa que uma boa piada realmente tocará mais pessoas.

Dito isto, o que é engraçado para alguns é ofensivo para outros e triste para outros mais. É isto que torna a comédia tão divertida: a ideia de que alguém possa ultrapassar o limite, dizer algo, que você estava pensando, ou cristalizar um pensamento que você não teve.”

Paul Scheer – astro de “A Liga Extraordinária”

“Tem havido muita negatividade em todas as minhas conversas com pessoas sobre “as mudanças” que irão acontecer em Hollywood. Mas como alguém que rotineiramente foi forçado a trabalhar com limitações enormes em matéria de tempo e orçamento em projeto atrás do outro, posso afirmar que a restrição é a mãe da criatividade. Por isso, acho que o entretenimento pós-Covid se sentirá livre e não estruturado e experimental. Algumas coisas serão terríveis – e alguns filmes e programas de TV serão mais excitantes do que tudo o que vimos nos últimos dez anos, porque todo mundo estará trabalhando fora de sua zona de conforto.”

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