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A Petrobras se equilibra entre o mercado e a pressão dos caminhoneiros sobre Bolsonaro, avaliam analistas

Nos últimos dias, a gasolina registrou preço médio de R$ 5,427 por litro nas bombas, menor patamar desde março. (Foto: EBC)

A Petrobras anunciou reajuste no preço dos combustíveis – o terceiro do ano, no caso da gasolina, e o segundo para o diesel, que já acumulam alta de 22% e 10,8% em 2021, respectivamente.

Segundo analistas e fontes que não quiseram se identificar, o reajuste foi uma tentativa de tranquilizar o mercado financeiro, que se surpreendeu com o detalhamento da política de preços da estatal na sexta-feira à noite, mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro convocou o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, para ir a Brasília.

Na ocasião, Bolsonaro afirmou que não iria intervir na Petrobras e sugeriu mudanças no ICMS incidente sobre o combustível, em meio à pressão dos caminhoneiros.

Na sexta-feira, a estatal deu, pela primeira vez, detalhes da sua política de preços, após a agência Reuters revelar as informações. A Petrobras informou que, no ano passado, decidiu passar de trimestral para um período de 12 meses o período para alinhar os valores da gasolina e do diesel vendidos no Brasil com os do exterior.

Na época, porém, essa mudança não foi tornada pública. Ou seja, o mercado não tinha conhecimento sobre essa prática da companhia.

No domingo, a estatal disse ainda que essa periodicidade de alinhamento anual foi “confirmada em janeiro deste ano”, em reunião do Conselho de Administração.

Para dois especialistas, que pediram para não ser identificados, faltou transparência à estatal, o que pressionou seus papéis no mercado acionário. Segundo essas fontes, o fim de semana foi de pressão para que a estatal desse sinais ao mercado de uma independência política.

Ações em queda

Os reajustes anunciados, no entanto, ficaram aquém do esperado pelo mercado. Por isso, as ações da empresa chegaram a cair 5% na segunda-feira na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo. No fim do pregão, o papel ordinário (ON, com direito a voto) encerrou em queda de 4,14%, a R$ 28,45, e o preferencial (PN, sem voto) recuou 3,14%, a R$ 28,11.

A queda das ações da Petrobras aconteceu no mesmo dia em que o preço do barril do petróleo tipo Brent, referência no mercado internacional, ultrapassou os US$ 60 pela primeira vez em mais de um ano. A commodity avançou 2,1%, a US$ 60,60, com as perspectivas de aprovação do pacote fiscal nos EUA.

Para Pedro Galdi, da Mirae Asset, a desvalorização das ações foi provocada pelo comunicado da Petrobras na sexta-feira à noite: “O comunicado de mudança no prazo de reajuste de preços atraiu movimento de venda, o que fez as ações caírem. Na minha visão, a queda foi exagerada, já que a própria empresa anunciou aumento de preços”.

“Os investidores tiveram que ajustar expectativas para a notícia e esclarecimentos oferecidos pela Petrobras sobre política de preços, e a necessidade de o governo achar uma solução para aliviar a pressão dos caminhoneiros”, afirmou em relatório o economista-chefe do banco Modalmais, Álvaro Bandeira, sobre a queda nas ações da estatal ontem.

A partir desta terça, o valor médio da gasolina para as distribuidoras sobe 8,1%, passando de R$ 2,08 para R$ 2,25. No caso do diesel, a alta é de 6,1%, para R$ 2,24. A estatal também divulgou novos preços para o GLP, o gás de botijão, com elevação de 5%, para R$ 2,91 por quilo.

Para a Abicom, associação que reúne as empresas importadoras, apesar do reajuste, a defasagem continua elevada, o que prejudica a concorrência com as empresas privadas. Isso já motivou queixas na Agência Nacional do Petróleo (ANP) e no Cade, órgão que regula a concorrência no país. Um analista estima que o reajuste não compense todas as perdas da Petrobras e que a defasagem em todos os combustíveis é, em média, de 10%.

No domingo, a Petrobras informou que, apesar de “ser praticamente a única produtora de combustíveis de petróleo no país, com 98% da capacidade de refino, enfrenta competição de importadores que têm participado com 20% a 30% do mercado doméstico, dependendo do produto”.

Guilherme Sousa, economista da Ativa Investimentos, vê espaço potencial de novo aumento a curto prazo nos combustíveis: “No fim de janeiro (o reajuste anterior) existia espaço para elevação de até 12%, que poderia ser feita de forma fracionada e ocorreu exatamente como prevíamos. Reforçamos que a Petrobras pode não aumentar imediatamente os 5% que ainda faltam, mas, de acordo com o nosso modelo, ainda há potencial para isso no curto prazo”.

O Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), ligado à Federação Única dos Petroleiros (FUP), avalia que a falta de medidas efetivas do governo e o reajuste feito pela Petrobras mostram que ainda não há clareza sobre como os preços dos combustíveis são formados.

Para um analista, o “reajuste tímido” da Petrobras ontem teria conseguido neutralizar as pressões do governo Bolsonaro, que temia que um reajuste maior gerasse insatisfação entre os caminhoneiros ou afetasse os índices de inflação.

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