Jair Bolsonaro tem várias facetas. Uma delas: cutucar quem está quieto. Os dois casos mais recentes chamaram a atenção de Europa, França e Bahia. O primeiro pegou Leonardo DiCaprio. O presidente o responsabilizou por incêndios na Amazônia.
O segundo atingiu Greta Trunberg. Ele a chamou de “pirralha que faz um showzinho na COP 25”. No dia seguinte, a adolescente sueca foi eleita pela revista Time Personalidade do Ano. Ganhou lugar ao lado de Albert Einstein, Mahatma Gandhi e Bill Gates.
Consequência
A gracinha teve consequências. Uma delas: popularizou o português. A jovem escreveu “Pirralha” no perfil de mídias sociais dela. A outra: provocou uma corrida ao dicionário. A palavra, feijão de festa décadas passadas, estava esquecida. O que quer dizer? Nada mais, nada menos que isto: criança, pessoa de baixa estatura.
Reação
Na resposta, a pirralha mostrou que tem senso de humor. É bem-humorada. Viu? Bem-humorada se opõe a mal-humorada. Mas ambas jogam no mesmo time. Escrevem-se com hífen.
Sem querer
“A boca dela é esquisita”, comentou alguém que estava ao lado do presidente. Soou esquisito. A razão: o bajulador formou baita cacófato. A última sílaba de boca se juntou à palavra seguinte — dela. Ouviu-se, então, cadela.
Por falar em cacófato…
Eis exemplos de penetras indesejados: Não me preocupei, já que tinha (jaquetinha) terminado o trabalho. Uma mão (mamão) estava na mesa; a outra, no bolso. Ela tinha (latinha) bons amigos. Paguei R$ 50 por cada (porcada) livro. Vou-me já (mijar). O fiscal confisca gado (cagado). Essa fada (safada) é conhecida das crianças.
Oposto
O cacófato soa mal. O contrário? É eufônico.
Abgar Renault escreveu
“Sou sensível a um cacófato ainda quando leio em silêncio: ouço-o com os olhos.”
Colaboração
O leitor Roger Chadel escreveu: “Li na coluna Dicas de Português as observações sobre a regência do verbo preferir. Não há dúvida de que se prefere algo a outro. Prefiro cinema a teatro (não do que teatro). E preferir que? Posso dizer “Prefiro que você não vá”? “Ela prefere que eu compre outro carro”?
Trata-se de outra construção. Nota mil. Eu prefiro que você continue colaborando com a coluna. Observações de leitores são pra lá de bem-vindas.
Leitor pergunta
Li no jornal esta passagem: “O presidente Bolsonaro passou por um procedimento dermatológico. Foi realizada uma cauterização de sinais na região próxima à orelha. Os sinais estariam trazendo preocupação, mas, segundo avaliação médica, não seriam “nada demais”. Demais ou de mais? — Bia Silva, Belém.
Demais = muito, em excesso: Comi demais. Trabalhou demais antes de viajar.
De mais = a mais, opõe-se a “de menos”: Não seriam nada de mais (nada a mais). Não seriam nada de menos.