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A polarização política invadiu o ambiente de trabalho

De acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT), até 19 de setembro, foram registradas 319 denúncias. (Foto: TSE)

A polarização política invadiu o ambiente de trabalho, esgarçando as relações entre colegas e entre chefes e empregados. Nas últimas semanas, vários casos de assédio explícito surgiram nas redes sociais.

Muitos são violações da legislação trabalhista, segundo Adriane Reis de Araújo, procuradora regional do Trabalho, como abuso de poder, sobrecarga de informação (com mensagens em grupos de WhatsApp), convencimento, manipulação, chantagem, persuasão, constrangimento, humilhação, promessas e ameaças. “É muito grave”, afirma.

Foi o que ocorreu em uma empresa de frutas de Pernambuco. Um funcionário, que pediu para não ser identificado por medo de retaliação, disse que seu chefe levou um candidato ao pátio da empresa para discursar. Não obrigou ninguém a votar, mas enviava mensagens e entregava “santinhos”.

Segundo a procuradora regional, o ponto de alerta está justamente na relação desigual entre o empregado e o empregador, já que este último detém “o valor econômico”.

“Além de violar os direitos trabalhistas, o assédio eleitoral também fere direitos individuais”, complementa a advogada Maria Laura Alves, especialista em Direito do Trabalho.

Apesar das práticas indevidas surgirem principalmente dos superiores hierárquicos, eles não são os únicos a cometer delitos no trabalho. O assédio eleitoral pode acontecer de forma horizontal, entre os funcionários. Sentimentos de ódio e raiva do colega por votar no candidato oposto ou pela ideologia política são fatores para um espaço com alto risco de relacionamento, diz a psicóloga Juliana Bley, especialista em segurança do trabalho.

Em situações onde não há espaço para o debate saudável, o ideal é sugerir outra opção. “Se não há habilidades sociais para conversas, os debates devem ficar fora do trabalho”, afirma a psicóloga.

Por outro lado, a implementação de acordos e códigos de ética é um caminho possível, mas cada empresa precisa estar atenta ao modelo adotado. Compliance e setores dedicados a evitar casos de violência, como a política, são bons exemplos em grandes companhias.

Já em pequenos comércios, existe a probabilidade da decisão vertical em que o patrão ordena o que é proibido, ou a horizontal, em que todas as vozes são ouvidas.

A advogada Maria Laura Alves reforça que os trabalhadores “não podem ser punidos por expressar opinião fora do ambiente de trabalho”, por exemplo, nas redes sociais pessoais. O funcionário tem direito a manifestar suas ideias, desde que não sejam contrárias à Constituição e à democracia.

Para formalizar denúncia é preciso estar munido de provas: áudios, fotos, vídeos e cópias de mensagens. Em caso de trabalhadores que são acompanhados por testemunhas, não é permitido que seja parente até 3.º grau nem pessoas que tenham interesse no processo. As denúncias podem ser feitas no site do Ministério Público do Trabalho.

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