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Por Redação O Sul | 27 de junho de 2019
Um laudo técnico divulgado nessa quinta-feira pelo IGP (Instituto-Geral de Perícias) do Rio Grande do Sul confirmou as suspeitas de que o líquido corrosivo utilizado por um homem em recentes ataques a outras pessoas, em Porto Alegre, é mesmo ácido sulfúrico. O principal desafio da Polícia Civil, agora, é identificar e prender o responsável pelos crimes, cometidos na Zona Sul da cidade na semana passada.
As poucas imagens obtidas por meio de câmeras instaladas na região ainda não permitiram descobrir detalhes capazes de levar até o suspeito, que teria aproximadamente 25 anos de idade. O suposto carro utilizado por ele em um dos episódios, um HB-20 de cor branca, aparece apenas de longe e a qualidade do registro não é suficiente, de forma que nem mesmo a placa pode ser observada.
O resultado das análises foi encaminhado à 13ª DP (Delegacia de Polícia) da Capital, que investiga os casos. Até o momento, cinco pessoas foram lesionadas e tiveram roupas danificadas, todas pelo mesmo produto. São homens e mulheres de diferentes idades e que residem nos bairros Nonoai, Aberta Morros e Hípica, o que dificulta o mapeamento de um perfil preferencial de vítima pelo criminoso.
Os relatos são bastante semelhantes entre si: um homem se aproxima e lança o líquido sobre elas. “O ácido sulfúrico é um dos mais fortes”, explicou à reportagem do jornal “O Sul” o diretor do Departamento de Perícias Laboratoriais do IGP, Daniel Scolmeister. “Primeiramente, a substância desidrata a pele. A pessoa sente um repuxar e o material começa então a carbonizar a matéria orgânica, deixando a região com coloração marrom.”.
Ainda de acordo com o especialista, nos laboratórios o produto é mais concentrado (98%) e é vendido apenas com permissão da PF (Polícia Federal). Esse tipo de substância é o mesmo conhecido pela população como ácido de bateria ou água de bateria, que embora possuam aproximadamente 30% ou 40% de ácido sulfúrico, são acessíveis à população em geral para compra e manipulação.
Cuidados
A vice-presidente da secção gaúcha da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), Clarissa Prati, explica que, em caso de ataque com esse tipo de substância, é preciso tomar medidas rápidas para que os ferimentos não se agravem e não originem sequelas: “De imediato, deve-se lavar a área atingida com água corrente por uns 20 minutos, e, se se permanecer sensação de ardência, o procedimento deve ser repetido”.
As substâncias cáusticas causam destruição tecidual e, por isso, podem gerar manchas e cicatrizes ao longo do tempo. Tanto em cabelos, olhos ou na pele, há efeitos que variam de intensidade, conforme a quantidade de líquido em contato com o organismo. “Os cabelos, por exemplo, podem ter o seu crescimento alterado no caso de cicatrizes profundas. Nos olhos, a situação é similar, e existem riscos de lesões de córnea e cegueira, por isso, um oftalmologista deve ser imediatamente consultado”, salienta.
Clarissa faz a ressalva, no entanto, de que é possível recuperar em parte a pele afetada pelo ácido, por meio de procedimentos médicos. Isso também varia conforme a profundidade de cada cicatriz: quanto mais grave, maior o tempo para recuperação e a necessidade de procedimentos médicos ou cirúrgicos.
(Marcello Campos)