Cerca de 180 manifestantes foram presos em Hong Kong, ao menos sete deles no âmbito da nova lei de segurança nacional, promulgada na última terça-feira (30). A medida, que aumenta o controle chinês sobre o território semiautônomo e põe em xeque suas liberdades, foi alvo de protestos e de críticas internacionais.
Policiais da tropa de choque usaram gás lacrimogêneo e canhões d’água para dispersar manifestantes que se aglomeravam em um dos principais distritos comerciais da cidade e bloqueavam ruas. Antes, os agentes e segurança haviam mostrado um cartaz que alertava os ativistas de que poderiam estar cometendo crimes de secessão ou subversão previstos pela nova lei.
Pela medida, crimes deste tipo, assim como terrorismo e conluio, são passíveis de prisão perpétua e serão julgados na China continental. A lei, que não será aplicada retroativamente, também prevê que agências de segurança chinesas atuem na cidade pela primeira vez após a devolução. Ela será estendida a todos aqueles no território, o que significa que qualquer um que se posicione a favor da independência de Hong Kong poderá ser processado ao entrar em território chinês.
Segundo a polícia, manifestantes foram detidos nesta quarta por “participarem de reuniões não autorizadas, perturbarem a ordem pública, posse de armas e outras ofensas”. A primeira detenção no âmbito da nova lei, de acordo com o Twitter das forças de segurança, foi de um homem que carregava uma bandeira pró-independência, que agora se torna proibida. Um policial teria sido atacado no ombro com um objeto pontiagudo por um manifestante que fugiu.
“Nós temos mais medo que antes”, disse a manifestante Hannah, de 18 anos, ao Financial Times, afirmando que a nova legislação “deixou Hong Kong mais parecida com a China”. “Mas precisamos mostrar ao mundo que ainda estamos resistindo.”
Pelo mundo, a nova legislação foi vista como uma ameaça ao modelo “um país, dois sistemas” e ao status de Hong Kong como centro financeiro global. Nesta quarta, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse ao Parlamento de seu país que a lei chinesa “constitui uma clara e séria violação da Declaração Sino-Britânica” (tratado de 1984 que estipulou a devolução do território). Para implementá-la em tempo recorde, Pequim driblou o Legislativo autônomo da cidade, sem que houvesse um debate público ou a divulgação de um anteprojeto, etapas previstas pela Lei Básica.
“Ela [a legislação] viola o alto grau de autonomia e está em conflito direto com a Lei Básica. Também ameaça a liberdade e os direitos protegidos pela Declaração Sino-Britânica”, disse Boris, afirmando que estuda elaborar um programa que conceda mais benefícios aos cidadãos de Hong Kong que possuam passaportes ultramarinos britânicos, como o direito de viver e trabalhar no Reino Unido e, posteriormente, solicitar cidadania.
Os Estados Unidos, por sua vez, também afirmaram que a legislação de 66 artigos “viola” a autonomia de Hong Kong e afirmaram que como Pequim está tratando o território como “um país, um sistema”, os americanos farão o mesmo”, alertando para represálias. A União Europeia, por sua vez, disse considerar “essencial” que se protejam os direitos e liberdades existentes na cidade, enquanto o governo de Taiwan, província considerada rebelde pela China, abriu um escritório para facilitar a imigração para a ilha.