A Qualicorp informou nesta quinta-feira (23) que seu conselho de administração aprovou a criação de um comitê de apuração para investigar os fatos que levaram a busca e apreensão realizada na sede da empresa de Consultoria e Corretora de Seguros no começo da semana. Na terça-feira (21), a sede da empresa foi alvo de operação da PF (Polícia Federal) e do Ministério Público Eleitoral de São Paulo que teve entre os alvos o ex-presidente da companhia José Seripieri Filho, o Júnior, por suposto uso de caixa dois pelo senador José Serra (PSDB-SP) em campanha de 2014.
A companhia declarou que o comitê especial de assessoramento terá amplos poderes, independência e autonomia orçamentária. Os membros independentes do conselho Mauro Teixeira, Sampaio, Murilo Ramos Neto e Roberto Martins de Souza, formarão o Comitê de Apuração.
O comitê, que contará com a ajuda de assessores externos especializados, iniciará os trabalhos no menor tempo possível e apresentará conclusões e recomendações diretamente conselho de administração, para que este possa decidir sobre eventuais medidas a serem tomadas, afirmou a companhia.
“Com base nas informações divulgadas publicamente pelas autoridades até o momento, a Companhia informa que os alegados fatos que deram ensejo à busca e apreensão são relacionados às eleições de 2014. A Qualicorp informa ainda que, em 12 novembro de 2019, realizou uma profunda reformulação da sua administração e, desde tal data, o Sr. José Seripieri Filho não ocupa qualquer cargo na administração da Companhia e não é um acionista relevante da Qualicorp, conforme divulgado ao mercado em 5 de fevereiro de 2020”, informou a empresa em comunicado.
A Operação Paralelo 23 foi deflagrada nesta terça pelo Ministério Público Eleitoral e pela PF (Polícia Federal). Agentes foram mobilizados para o cumprimento de quatro mandados de prisão temporária e 15 mandados de busca e apreensão em São Paulo (SP), Brasília (DF), Itatiba (SP) e Itu (SP). A operação investiga possível ocorrência de caixa 2 na campanha do senador José Serra, em 2014. O juiz da 1ª Zona Eleitoral também determinou o bloqueio judicial de contas bancárias dos investigados. Por se tratar de parlamentar no exercício do mandato no Senado, as investigações em primeira instância se restringem, em relação a ele, aos fatos apurados no ano de 2014, na campanha.
Após a formalização de acordos de colaboração premiada, foram desenvolvidas medidas investigativas diversas, como a quebra do sigilo bancário, intercâmbio de informações com o COAF e os testemunhos de pessoas relacionadas aos fatos, tendo sido constatada a existência de fundados indícios do recebimento por parlamentar de doações eleitorais não contabilizadas, repassadas por meio de operações financeiras e societárias simuladas, visando assim a ocultar a origem ilícita dos valores recebidos, cujo montante correspondeu à quantia de R$ 5 milhões.
Com o decorrer das investigações, apurou-se ainda a existência de outros pagamentos, em quantias também elevadas e efetuados por grandes empresas, uma delas do setor de nutrição e outra do ramo da construção civil, todos destinados a uma das empresas supostamente utilizadas pelo então candidato para a ocultação do recebimento das doações. Tais fatos ocorreram também perto das eleições de 2014 e serão objeto de aprofundamento na fase ostensiva das investigações.
José Serra afirmou em nota que foi surpreendido por mais uma operação da PF contra ele. Além de negar as acusações, diz que jamais foi ouvido sobre o caso. Na ocasião, Serra afirmou que “jamais recebeu vantagens indevidas ao longo dos seus 40 anos de vida pública e sempre pautou sua carreira política na lisura e austeridade em relação aos gastos públicos”. A nota enfatiza ainda que todas as suas contas de campanha sempre foram aprovadas pela Justiça Eleitoral. As informações são da Qualicorp, da agência de notícias Reuters, da Procuradoria Regional da República da 3ª Região e do Núcleo de Comunicação Social do Ministério Público do Estado de São Paulo.