Quarta-feira, 08 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de abril de 2021
Enfrentando uma onda crescente de infecções por covid-19, com uma taxa de vacinação que não a acompanha, o Kremlin está tentando conter a epidemia sem alarmar os russos. Até mesmo pessoas de dentro do governo estão preocupadas com o fracasso.
Estatísticas não oficiais do governo mostram que a terceira onda começou, de acordo com duas autoridades com conhecimento da situação que pediram para não serem identificadas. Meses de avaliações otimistas do Kremlin de que a situação está sob controle diminuíram a demanda por vacinas, já que grande parte da população não tem mais o vírus, disseram os oficiais.
“Claro, esperamos que a demanda por vacinas cresça”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a repórteres, acrescentando que os dados mostram que não há uma terceira onda atualmente.
“De fato, há uma ascensão, mas não é uma onda, mas sim uma pequena ascensão gradual”, disse Vadim Pokrovsky, chefe do instituto de epidemiologia da agência reguladora de saúde da Rússia.
A média de novas infecções em sete dias em Moscou é a mais alta desde janeiro, e o número de casos está crescendo mais rápido do que no Reino Unido, que tem uma população cinco vezes maior. O total nacional estagnou em cerca de 9 mil novos casos diários, enquanto, em dezembro, eram quase 30 mil.
A Rússia está publicamente se projetando com confiança sobre a gestão da pandemia depois que o presidente Vladimir Putin rejeitou uma segunda quarentena, quando as infecções aumentaram no ano passado, favorecendo uma priorização da economia, em contraste com muitos líderes europeus. Embora a economia esteja se recuperando, a decisão levou o país um dos maiores índices de mortalidade do mundo.
O governo continua rejeitando novas restrições domésticas, embora recentemente tenha proibido viagens para alguns destinos turísticos populares, incluindo a Turquia, para reduzir os riscos de infecções por cepas de fora do país.
Na última sexta (23), Putin ordenou que, entre os feriados de 1º de maio e 9 de maio na Rússia, os trabalhadores tivessem folga nos dias de semana, após autoridades afirmarem que isso ajudaria a reduzir a propagação do vírus ao restringir as locomoções.
“A nova tendência indica que a situação está possivelmente se tornando mais difícil”, disse Anna Popova, chefe da vigilância de saúde pública da Rússia, ao presidente.
No entanto, um porta-voz do centro de resposta a vírus da Rússia disse na quarta-feira que é “absolutamente errado” falar de uma terceira onda atualmente.
Persuadir os russos a tomar uma das três vacinas contra a covid-19 desenvolvidas domesticamente está se revelando uma tarefa mais difícil em meio ao ceticismo público em relação às autoridades. Por isso, Moscou recorreu à oferta de cartões-presente no valor de mil rublos (R$ 69) para motivar as pessoas com mais de 60 anos a tomarem suas doses.
Cerca de dois terços dos russos dizem que não querem a vacina, afirmou Denis Volkov, analista da organização de pesquisa independente Levada Center.
“Muitas pessoas dizem: ‘Por que devo tomar uma vacina se o Estado não me obriga a isso?'”, disse ele.
Centros de vacinação funcionam em shoppings da capital para incentivar as pessoas a tomarem as vacinas gratuitas, inclusive na loja de departamento GUM, na Praça Vermelha.
“Havia filas apenas durante os primeiros dias”, disse Svetlana Reshetina, administradora do centro. “Eu não fui vacinada. Eu não confio nisso ainda.”
Já Eva Avenel, de 47 anos, disse que viajou de um subúrbio de Moscou para ser vacinada depois de saber que Putin tomou a injeção no mês passado.
“Meus amigos continuavam tentando me convencer do contrário, dizendo que era prejudicial”, disse ela, que confia em Putin. “Se ele fez isso, eu também fiz.”
O presidente promoveu a vacinação russa com a Sputnik V como uma líder mundial, embora a absorção doméstica seja lenta e apenas cerca de 8% da população tenha recebido uma dose.
As taxas de vacinação, porém, estão melhorando, e cerca de 12,1 milhões de pessoas tomaram a primeira dose, segundo afirmou a vice-primeira-ministra, Tatyana Golikova.
A Rússia precisa de 69 milhões de pessoas com anticorpos por vacinas ou por recuperação da doença para obter a imunidade coletiva, de acordo com Golikova. Putin pediu que esse limite seja atingido até o outono.
Segundo Evelina Zakamskaya, editora-chefe da estação de televisão russa Doctor, muitos médicos russos não estão ajudando na campanha de vacinação. Eles “não têm informações suficientes sobre as vacinas e têm um alto nível de desconfiança nelas”.