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Ali Klemt A saga do “Naná”

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(Foto: Freepik)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Meu caçula tem um “Naná” (alguns chamam de “cheirinho” ou “naninha”) desde o dia UM. Ele tinha outros, e alguns ficaram pelo caminho ou foram descartados. Mas esse um, especificamente, o acompanha desde que nasceu, e virou um pano encardido e rasgado – mas assim é na vida, também envelhecemos como o “naná”, e nem por isso perdemos nosso valor, não é mesmo? Pelo contrário, a cada dia a mais, mais história, mais emoção.

Pois bem: o Naná sumira. Já fazia mais de 36 horas, e nada de o acharmos.

Pais e mães lembrarão o quanto um objeto transicional é importante. Ele é escolhido e se torna um item que compensa a ausência da mãe, quando a criança percebe que já não são mais um só corpo. Tamanho é o apego, que se torna um item de conforto emocional.

Então lá estava eu, quebrando a minha cabeça de onde poderia ter ido parar o Naná, quando fui tomada por uma iluminação: ele estava dentro do saco cheio de papéis de presentes que sobraram do meu aniversário, no qual o Henri entrara para fazer farra. Eu lembrava! Mais que isso, tinha uma foto que comprovava o fato. O problema é que esse saco já havia sido mandado – você sabe – para o lixo!

A partir daí, senhores, comecei a saga. Desci para o lixão e encarei aquilo que todo mundo evita (embora todos produzam). Máscara, galochas e luvas, e lá fui eu em busca do Naná perdido.

Alguns disseram para eu ser desapegada e me conformar. Que seria a oportunidade de tirar esse objeto transicional de vez da vida do meu filho. E talvez eu pudesse ter feito isso, mas não seria eu: tenho profundo apego a tudo que marca a nossa história, e não conseguiria me perdoar se não tentasse.

E tem mais uma coisa: eu tenho fé. Quando atirei meu coração no lixo, eu sabia que sairia de lá com o Naná são e salvo. Foi o que aconteceu: resgatado, e com uma história ainda mais linda para contar. Porque quando eu for velha e entregar esse paninho para o meu filho, então adulto, eu vou olhar nos olhos dele e contar que desci do salto, que invadi o lixão às 5h da manhã, que chorei buscando o que para ele era o objeto mais importante da sua vida. Apenas para ter esse momento. Apenas para relembrá-lo do quanto ele sempre foi amado e da imensa compreensão que sempre tentei ter pelos seus sentimentos. Apenas para marcar a nossa historia.

E aí fui arrebatada pela dor ao pensar em todas as nossas famílias gaúchas que perderam tanto, ou que perderam tudo. E quando eu falo “tudo”, eu incluo o que é mais precioso: as marcas da sua história.

Não deve ser fácil. Mas precisamos nos lembrar que somos mais do que os itens que deixamos. Eu mesma ainda preciso evoluir – e, enquanto isso, sigo guardando os pedacinhos de infância que meus pequenos deixam pelo caminho.

*aliklemt@gmail.com

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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