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A tentativa do governo de emancipar empresas estatais acendeu um sinal de alerta no Congresso Nacional

Projetos enviados pelo governo ao Congresso Nacional alteram as regras para que as estatais se tornem independentes. (Foto: Divulgação)

Os dois projetos enviados pelo governo Lula ao Congresso Nacional alteram as regras para que as estatais se tornem independentes e sugerem o uso de um dispositivo previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e na Constituição, o contrato de gestão, para que as companhias do governo se emancipem. Especialistas afirmaram, no entanto, que é nesse ponto que a regra fiscal e a fiscalização dos gastos das empresas podem ficar mais frouxas.

O contrato de gestão tem como objetivo aumentar a eficiência e a sustentabilidade de empresas públicas, mas não deveria ser usado para retirar as estatais do Orçamento tradicional, de acordo com a especialista em finanças públicas e presidente da Associação da Auditoria de Controle Externo do Tribunal de Contas da União (AudTCU), Lucieni Pereira.

“O problema é passar a ideia de que você pode burlar o limite de despesas com pessoal, o limite de dívida pública e todos os controles públicos só fazendo um contrato de gestão e dizendo que não é mais dependente. O conceito de empresa dependente não permite essa ideia. É uma irresponsabilidade”, afirma.

A economista Selene Peres Nunes, uma das autoras da LRF, também diz que o governo não pode usar o contrato de gestão para tirar as empresas do Orçamento. “O governo não quer atacar os problemas reais de gestão das estatais e fica querendo resolver as coisas com contabilidade criativa. O governo não pode colocar ou tirar da conta (do Orçamento) ao seu bel-prazer.”

A Consultoria de Orçamento do Senado apontou que o projeto não apresentou justificativa para a mudança e concluiu que o texto permite que a empresa estatal dependente execute suas despesas como se fosse não dependente, escapando de restrições como o congelamento de gastos e a obrigação de registrar as despesas no Sistema

Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), que registra todas as movimentações financeiras da União.

A área técnica do Senado também concluiu que a proposta é omissa sobre se as despesas das estatais custeadas com receitas próprias vão ser submetidas ou não às restrições do Orçamento. “Em tese, o contrato de gestão permitirá que a empresa estatal dependente execute suas despesas como se fosse não dependente”, diz nota técnica.

A tentativa do governo acendeu um sinal de alerta no Congresso Nacional. Há duas preocupações. A primeira envolve transparência, pois os projetos abrem margem para as despesas das estatais não serem contabilizadas no Siafi. O segundo impacto é fiscal, pois o que ficasse fora do Orçamento abriria espaço para outros gastos.

A deputada Adriana Ventura (Novo-SP) elaborou requerimento para o Ministério do Planejamento pedindo esclarecimentos e cálculos de impacto dos projetos sobre o arcabouço fiscal. “O governo não só abre espaço para mais despesas, como dificulta o acompanhamento do uso desses recursos.” (AE)

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