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Por Redação O Sul | 30 de setembro de 2018
A Ucrânia, com seus 604 mil km² (um pouco maior do que o estado de Minas Gerais) e população de 42 milhões de pessoas, tornou-se destino de pais e mães em busca de barriga de aluguel graças ao preço atraente, quase metade do valor cobrado nos Estados Unidos.
Conta também a favor da ex-república soviética o fato de que alguns países que antes permitiam a prática para estrangeiros, como Índia e México, passaram a impedi-la nos últimos anos. Outros países que permitem a contratação de barriga de aluguel são Albânia, Rússia e Grécia.
Enquanto na Ucrânia os custos médicos e a remuneração das gestantes sai entre US$ 48 mil (R$ 194 mil) e US$ 63 mil (R$ 255 mil), nos EUA esse valor não fica abaixo de US$ 80 mil (R$ 323 mil), e pode chegar a US$ 130 mil (R$ 525 mil). Isso tudo, claro, sem contar gastos com passagens, hospedagem e eventuais extras, como um período mais longo na UTI neonatal, por exemplo.
O casal Roberto, de 38 anos, e Vivian, de 37, da cidade de Presidente Prudente (SP), voltou da Ucrânia com um casal de gêmeos, mas conta que a jornada não foi fácil. O engenheiro e a fonoaudióloga já tinham passado por três tentativas frustradas de fertilização in vitro no Brasil antes de começarem a pensar em tentar usar uma barriga de aluguel fora do País.
Foi em meados de 2016 que a possibilidade ganhou força, após assistirem a uma palestra sobre o tema. Os dois venderam um imóvel e embarcaram na primeira de algumas viagens para a Ucrânia em outubro daquele ano. Lá conheceram o hospital e selecionaram a barriga de aluguel.
Para poder ceder o útero, a voluntária tem que ter boas condições de saúde e ter tido filho em um parto descomplicado. A remuneração recebida por elas fica entre US$ 25 mil (R$ 101 mil) e US$ 30 mil (R$ 121 mil), segundo Bruna Alves, diretora no Brasil da agência israelense Tammuz. A empresa atua em vários países, conectando futuros pais a advogados e clínicas e hospitais especializados. “Geralmente são mulheres que só falam ucraniano e que vão usar o recurso para comprar uma casa ou pagar a faculdade dos filhos”, diz.
Com cinco embriões gerados, a primeira tentativa de Roberto e Vivian de engravidarem a barriga de aluguel ucraniana, em novembro de 2016, não vingou. Acontece. Não há estatística confiável, mas não é raro que novos esforços sejam necessários. Os dois resolveram tentar pela segunda vez, com a mesma mulher, aproveitando embriões restantes.
Depois do segundo insucesso, Vivian teve de passar novamente pelo tratamento hormonal para retirar mais folículos e, depois, fecundá-los com espermatozoides do marido. Para a sua sorte, tinham optado pela modalidade “garantida”— por um custo maior, são feitas tantas tentativas quantas forem necessárias até que aconteça uma gravidez e o bebê efetivamente nasça.
Foram formados meia dúzia de embriões, só um do sexo masculino. Dada a normalidade dos exames da voluntária, decidiram tentar uma última uma vez com ela. Uma substituição poderia agregar mais alguns meses à ansiedade do casal. “Escolhemos colocar o menino e uma menina, um casal”, conta Roberto.
Deu certo. Em 23 de abril de 2018 receberam a notícia: o parto era iminente e precisariam embarcar para a Ucrânia. A menina nasceu bem, forte, mas o menino ainda precisou ficar dez dias na UTI por causa de um problema no pulmão, corrigido mais tarde. O registro e o passaporte dos bebês, conta o pai, ficaram prontos de um dia para o outro. A família voltou ao Brasil e os bebês hoje estão saudáveis, com cinco meses de vida.
Quarenta e cinco famílias espanholas, com bebês nascidos na Ucrânia, porém, não tiveram a mesma sorte. Desde agosto algumas delas aguardam o registro dos filhos. O país ibérico, que tem regras de fertilização mais rígidas, desaconselha o uso de barriga de aluguel, embora afirme que agirá “no melhor interesse dos menores”.
No Brasil a barriga solidária (ou cessão temporária de útero) é permitida, mas tem de vir de alguma parente de até quarto grau (como tia ou sobrinha) — caso contrário, precisa da autorização do Conselho Federal de Medicina. Não é permitido, no país, qualquer tipo de remuneração a essas mulheres, embora não seja difícil, em redes sociais, encontrar interessadas cobrando valores que vão de R$ 20 mil a R$ 180 mil.