Sábado, 15 de março de 2025
Por Redação O Sul | 14 de março de 2025
A maioria das pessoas sabe que a vacina para o vírus influenza protege contra a gripe – doença que pode causar hospitalização, pneumonia e até óbito. No entanto, seus benefícios vão além disso. Um amplo conjunto de evidências científicas indica que o imunizante é capaz de reduzir o risco de eventos cardiovasculares graves, como infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e morte cardiovascular. Por isso, a vacina é fortemente recomendada por cardiologistas – especialmente para pacientes com doenças cardíacas, os cardiopatas.
É que a gripe pode funcionar como um gatilho para eventos cardiovasculares, e vale destacar que esse risco não se restringe apenas a quem já tem uma doença cardíaca. Alguns estudos sugerem inclusive que a vacinação contra o vírus influenza pode trazer benefícios cardíacos também para a população em geral. Só que mais pesquisas são necessárias antes que esse efeito passe a ser um objetivo explícito das campanhas públicas de vacinação.
No Brasil, o imunizante é recomendado para pessoas com mais de 6 meses de idade, em um esquema anual, em geral de uma única dose. No final de janeiro, o Ministério da Saúde anunciou que a vacina agora ficará disponível durante o ano todo, e não só durante campanhas, para os grupos prioritários, que incluem, por exemplo, pacientes com diabetes e obesidade — considerados de risco cardiovascular.
“Há estudos mostrando que, durante o período de maior circulação do vírus influenza ou após a infecção, você tem uma janela de oportunidade para eventos cardiovasculares”, comenta Henrique Fonseca, pesquisador da Academic Research Organization (ARO) do Hospital Israelita Albert Einstein.
“(Logo) Se eu reduzir a chance do vírus influenza gerar algum problema durante a infecção, diminuo a chance de um evento (cardiovascular)”, completa.
Uma meta-análise – um tipo pesquisa que avalia resultados de vários estudos sobre um mesmo tema e é considerada o padrão-ouro das evidências científicas – envolvendo apenas pacientes com alto risco cardiovascular mostrou que a vacinação contra a gripe reduziu em 26% o risco de eventos cardiovasculares graves; em 37% de morte cardiovascular; e em 28% de morte em geral. Os resultados foram publicados na revista científica European Journal of Heart Failure.
Um outro estudo, que incluiu mais de 4 milhões de pacientes canadenses e foi publicado na respeitada The Lancet Public Health, apontou que a vacinação contra a gripe reduziu entre 8,5% a 25,8% o risco de AVC — a depender do subtipo. Nessa pesquisa, foi avaliado o status vacinal de um grupo mais amplo de pacientes, então nem todo mundo apresentava eventos cardiovasculares anteriores ou fatores de risco.
Embora seja um grande estudo, publicado numa revista científica muito importante, o cardiologista Álvaro Avezum, que faz parte da Sociedade Brasileira de Cardiologia e é coordenador do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, destaca que precisamos ter cuidado ao ler os resultados.
Ele explica que o trabalho permite dizer que os pesquisadores encontraram uma associação entre a vacinação e o menor risco de AVC, mas não estabelece uma relação de causa e efeito. Para isso, seria necessário distribuir voluntários em dois grupos, sendo que um receberia a vacina e o outro, não — como os estudos analisados na meta-análise publicada na revista científica europeia. Nesse sentido, diz, para cravar o martelo, precisamos de mais pesquisas. De qualquer maneira, até agora, dá para dizer que as evidências são animadoras.
Atualmente, as pessoas morrem mais de problemas do coração no frio do que no calor – embora as mudanças climáticas devam modificar esse cenário. Isso ocorre porque as temperaturas mais baixas levam à vasoconstrição (ou seja, o estreitamento dos vasos sanguíneos), que aumenta a pressão arterial e pode sobrecarregar o coração. Mas há outro fator em jogo: é exatamente nesse período em que há mais circulação de vírus respiratórios, incluindo o da gripe.
Ocorre que, como Fonseca destaca, após a infecção há uma janela de risco para problemas cardiovasculares, que, segundo ele, dura por volta de 15 a 20 dias.