Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Tito Guarniere | 2 de novembro de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
A Vale, uma das maiores empresas do mundo, ainda suscita debates acalorados a respeito de sua privatização no ano de 1997. Foi bom para a economia brasileira, para o Brasil? Ou foi um péssimo negócio, a venda de uma gigante estatal a preço de banana, um crime de lesa-pátria, como costumam dizer os seus críticos?
Ninguém está aberto a rever a posição. É questão de natureza ideológica, que não envolve a racionalidade de uma análise meramente mercadológica e econômica.
Tenho a opinião de que foi positivo para o Brasil. Houve perdedores, sim – os funcionários da então estatal, os políticos que adoram um espaço para acomodar aliados e correligionários, e outras práticas nada virtuosas. Mas acho impossível que uma Vale que continuasse estatal pudesse apresentar os atuais indicadores. Não há nada no âmbito da gestão estatal, e ainda menos na área da produção de bens, que alcance os níveis de produtividade de uma empresa gerida pela dinâmica da iniciativa privada.
O argumento de que a empresa foi vendida a preço de banana é insubsistente. O valor de venda é o valor real, verdadeiro. Se ninguém no Brasil ou no mundo ofereceu uma proposta mais vantajosa, é porque estava no limite do que o mercado estava disposto a desembolsar. Dizendo de outro modo: se valesse mais, outros interessados, daqui ou de fora teriam participado do leilão com uma oferta maior. Eis aí um lugar em que o mercado é imbatível: o de farejar uma oportunidade de negócio, reconhecer uma pechincha.
Não se vendeu a companhia para um conglomerado empresarial, nacional ou estrangeiro. Os donos da Vale hoje em dia formam um portentoso consórcio de empresas privadas, fundos financeiros e fundos de pensão brasileiros, pertencentes a milhares de participantes. Trata-se de uma empresa de capital vastamente democratizado e desconcentrado. Pode-se dizer que a Vale não tem dono. O maior acionista é o Fundo Previ, do Banco do Brasil.
Uma forma de comparar a Vale estatal à privatizada está no cotejo de quanto ela valia no mercado à época da privatização e quanto vale agora. Os números: em 1997 um valor da ordem dos R$ 20 bilhões; agora, R$-285 bilhões.
Um dado relevante da comparação é o número de empregados. A Vale de 1997 tinha 11 mil empregados diretos, de carteira assinada. Hoje tem 120 mil. Aos atuais empregados adicionam-se 134 mil colaboradores terceirizados, isto é, de empresas que prestam serviços à mineradora.
Claro, alguém sempre dirá que se a Vale permanecesse estatal os números seriam até melhores. Mais do que duvidoso, improvável.
Cálculo importante seria o de quanto o Tesouro nacional deixou de investir para capitalizar a Vale, torná-la competitiva no mercado mundial. Ou quanto de tributos a Vale carreou para o erário, antes e depois da privatização – contas (de bilhões de reais) difíceis de medir. Não consegui chegar a tais números – é tarefa de estudiosos que se debrucem sobre a questão por bom tempo, dispondo das ferramentas adequadas e de todos os dados. Desconfio que o resultado seria definitivo para demonstrar que a privatização foi um grande acerto e um grande avanço.
(titoguarniere@terra.com.br)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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