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A Venezuela suspendeu aulas e dia de trabalho por causa de um apagão que ultrapassou 24 horas de duração

Mesmo as partes da capital Caracas que tiveram parte da energia elétrica restabelecidas voltaram a ficar sem luz. (Foto: Reprodução)

A Venezuela ficou paralisada e em meio ao caos após um apagão que o ditador Nicolás Maduro descreveu como uma “guerra elétrica” liderada pelos Estados Unidos, em um contexto de polarização entre o regime chavista e a oposição encabeçada por Juan Guaidó.

Nesta sexta-feira (8), o governo venezuelano anunciou o fechamento de escolas e a suspensão do dia de trabalho, por falta de energia em Caracas e em outras grandes cidades do país.

A queda na Venezuela também afetou o Estado brasileiro de Roraima, cujo fornecimento elétrico depende da central hidrelétrica de Guri. Assim, as autoridades tiveram de ativar, desde quinta-feira (7), suas cinco termoelétricas para suprir a falta de energia.

O apagão começou às 16h50 (17h50 em Brasília) de quinta-feira e completou 24 horas no fim da tarde desta sexta-feira (8). Mesmo as partes da capital Caracas que tiveram parte da energia elétrica restabelecidas mais cedo voltaram a ficar sem luz.

Pelas redes sociais, venezuelanos relatam comércio fechado, semáforos sem funcionar e caos no transporte público. O Aeroporto Internacional de Maiquetía, o principal da Venezuela, também não tem luz.

O problema foi causado por falhas na principal hidrelétrica do país.

O ditador Nicolás Maduro “suspendeu as aulas e o dia de trabalho hoje para facilitar os esforços de recuperar o fornecimento de energia elétrica no país”, avisou a vice-presidente Delcy Rodriguez nas redes sociais.

Hospitais ficaram colapsados, voos foram cancelados no aeroporto internacional Simón Bolívar, muitos lugares estavam sem água e as ruas dos principais municípios do país ficaram vazias, uma vez que o comércio teve de fechar.

Em Caracas, muitas pessoas caminhavam pelas ruas durante a manhã devido ao fechamento do metrô. Poucos ônibus circulavam. Muitos não sabiam que o dia de trabalho havia sido suspenso porque não tiveram acesso às notícias no rádio e na TV devido à falta de energia. Linhas telefônicas e internet têm serviço intermitente.

Devido ao fechamento das fronteiras com Colômbia e Brasil, a Venezuela ficou isolada. “É um fracasso, perdemos mercadorias, comida”, diz José Cordero, 50, em San José de Urama.

De acordo com a imprensa local, o apagão afetou praticamente toda a Venezuela, com cortes em 23 dos 24 Estados, incluindo Zulia, Táchira, Mérida e Lara (oeste), Miranda, Vargas, Aragua e Carabobo (centro-norte), Cojedes (centro), Monagas e Anzoátegui (leste) e Bolívar (sul).

Nas redes sociais, Maduro acusou os Estados Unidos pelo apagão: “A guerra elétrica anunciada e dirigida pelo imperialismo americano contra nosso povo será derrotada. Nada nem ninguém poderá vencer o povo de Bolívar e Chávez. Máxima união dos patriotas”.

A estatal elétrica Corpoelec também acusou uma ação intencional. “Sabotaram a geração na [central hidrelétrica de] Guri… Isso faz parte da guerra elétrica contra o Estado. Não permitiremos”, publicou a empresa no Twitter.

Guri, em Bolívar, é uma das maiores represas geradoras de energia da América Latina, atrás apenas da de Itaipu, entre Brasil e Paraguai.

A luz foi cortada em Caracas no fim da tarde, afetando serviços como o metrô. Na capital, com altos índices de criminalidade, a população voltou para casa na luz do dia. Houve panelaços de protesto pela situação.

“Já estamos cansados, esgotados”, declarou à agência de notícia AFP a executiva de vendas Estefanía Pacheco, mãe de duas crianças, obrigada a andar 12 km entre seu trabalho até sua casa.

Os apagões são comuns na Venezuela, onde a economia está em colapso, com falta de alimentos e remédios, além de grande êxodo de venezuelanos. Mais de três milhões de cidadãos já deixaram o país desde o início da crise.

Em um país onde a inflação deve atingir os 10.000.000% em 2019, segundo o Fundo Monetário Internacional, a falta de energia também paralisa o comércio, impedindo o pagamento com cartão.

A nota de maior valor, 500 bolívares, equivale a 15 centavos de dólar, o que mal permite comprar uma bala. Com isso, as transações eletrônicas são indispensáveis, incluindo para compras pequenas, como a de um pão.

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