A ONG Observatório Venezuelano do Conflito Social (OVCS) informou nesta quinta-feira (24) que já chegou a 26 o total de mortes ocorridas durante os protestos antigovernamentais das últimas horas. “Até 14h (horário local, 16h de Brasília) confirmamos 26 pessoas assassinadas em protestos. Este balanço só inclui vítimas com identificação confirmada”, afirma uma mensagem da ONG divulgada em sua conta do Twitter.
Uma fonte do OVCS disse à Agência Efe que nas últimas três noites foram registradas 180 manifestações, quase todas em áreas muito pobres do país e algumas das quais desencadearam incidentes violentos sem que até agora as autoridades tenham informado algum balanço de danos ou vítimas.
Do total de mortes, duas ocorreram no Estado de Amazonas, cinco em Bolívar, sete em Caracas, três em Portuguesa, três em Barinas, três em Táchira, uma em Yaracuy e duas em Monagas.
Segundo a ONG, a maioria das vítimas foi baleada. O portal venezuelano Efecto Cocuyo reportou que houve violência em protestos em Palo Verde, Petare, Catia e San Martín, todos favelas e bairros pobres de Caracas, na noite de quarta-feira. A situação mais crítica ocorreu no fechamento do elevado de Palo Verde, depois que, segundo policiais, grupos armados deixaram os bairros das redondezas e abriram fogo. O tiroteio se estendeu até 22h30min, segundo o portal. Duas granadas foram lançadas no bairro José Félix Ribas – apenas uma explodiu.
Além dos enfrentamentos, a mídia venezuelana destaca que houve saques ao comércio. Um supermercado de La Venga e lojas de Las Adjuntas e da avenida San Martín foram alvo. Para reprimir os protestos, foram às ruas agentes do Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional), das Faes (Forças de Ações Especiais), da PNB (Polícia Nacional Bolivariana) e da Guarda Nacional Bolivariana — principal base interna de apoio de Maduro, os militares haviam sido convocados pela oposição a não reagirem com violência contra os manifestantes.
Os episódios em que foram registrados mortes ocorreram antes e depois das grandes marchas contra Nicolás Maduro convocadas pela oposição, que não reconhece o novo mandato do presidente, para o qual ele tomou posse no dia 10. Durante as marchas de quarta-feira, que não foram reprimidas, o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, declarou-se presidente interino e foi assim reconhecido por 13 países, incluindo o Brasil e os Estados Unidos. Já Maduro prometeu resistir no poder e rompeu relações diplomáticas com os Estados Unidos.
Desafio
As marchas desta quarta-feira, que tiveram mais de 20 detidos, foram o primeiro grande desafio entre governo e oposição nas ruas desde as manifestações que deixaram 125 mortos entre abril e julho de 2017.
Convocados por Guaidó, os opositores exigiram que Maduro deixe o poder e convoque um governo de transição. Governistas denunciam um suposto golpe de Estado orquestrado pelos EUA e defendem a legitimidade do bolivariano por ter sido eleito em maio para o segundo mandato, não reconhecido por mais de 40 países.