Sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 8 de novembro de 2020
As relações entre os Estados Unidos e Brasil sempre foram próximas e se fortaleceram nos governos Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff, mesmo com a denúncia de espionagem do serviço secreto americano contra a presidente brasileira.
O professor de Relações Internacionais da FGV, Guilherme Casarões, avalia que sempre houve harmonia nas relações entre os dois países: “Elas têm um elemento, um traço de continuidade. Relações de comércio, relações estratégicas, relações de natureza política; elas sempre tiveram um movimento mais ou menos harmônico entre os dois países”.
Mas a política externa mudou no governo Bolsonaro. A diplomacia ideológica, conduzida pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, passou do multilateralismo para o alinhamento irrestrito a países com governos populistas de direita, como o de Donald Trump.
O presidente Jair Bolsonaro sempre disse que existe uma amizade entre ele e Trump e, por várias vezes, declarou apoio à reeleição do republicano. Um alinhamento incondicional, de acordo com o diplomata Roberto Abdenur: “De subordinação e de subserviência, em que o Brasil por vezes abre mão de seus próprios interesses para secundar o que são os interesses ou posicionamentos do governo americano sob Trump”.
Em setembro, em um dos debates presidenciais, Joe Biden disse que, se fosse eleito, ia arrecadar US$ 20 bilhões para preservação da Amazônia e que iria impor sanções caso o Brasil não parasse de destruir a floresta. Um alerta à política ambiental brasileira, criticada aqui e lá fora, e conduzida pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Bolsonaro respondeu a Biden em live: “O Biden, não sei se para ganhar voto, parece que está querendo romper, romper até o relacionamento com o Brasil por causa da Amazônia. Sabemos que alguns países no mundo têm interesse na Amazônia e nós temos que fazer o quê? Dissuadi-los disso. E como é que você faz a dissuasão disso? É tendo Forças Armadas preparadas”.
Durante a campanha nos Estados Unidos, filhos e apoiadores de Bolsonaro investigados no inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal compartilharam informações falsas sobre as eleições americanas.
No dia da eleição, sem citar Biden, Bolsonaro escreveu em uma rede social: “É inegável que as eleições norte-americanas despertam interesses globais, em especial por influir na geopolítica e na projeção de poder mundiais. No campo das informações, há sempre uma forte suspeita da ingerência de outras potências no resultado final das urnas. No Brasil, em especial pelo seu potencial agropecuário, poderemos sofrer uma decisiva interferência externa na busca, desde já, de uma política interna simpática a essas potências, visando às eleições de 2022”.
O vice-presidente, Hamilton Mourão, amenizou: “Vamos continuar com a mesma, vamos dizer assim, com as mesmas ligações. Isso é bobagem. É opinião pessoal dele. Se bem que, quando o presidente fala, ele fala por todos, né?”.
Com a vitória do democrata Joe Biden, se não houver uma mudança na política externa, especialistas alertam para o risco de o Brasil perder a proximidade com os Estados Unidos e se distanciar da agenda de interesses brasileiros construídas durante anos.
“Politicamente isso agrava a situação de grande isolamento em que o Brasil já se encontra no plano internacional, devido aos erros gravíssimos de uma política externa que labuta na esfera da fantasia, das teorias conspiratórias, da alucinação incontrolada”, acredita o diplomata Roberto Abdenur.
Como vice-presidente de Barack Obama, Joe Biden visitou o Brasil duas vezes, em 2013 e 2014, quando anunciou o envio de arquivos da ditadura no Brasil à Comissão Nacional da Verdade.
Para o professor de Relações Internacionais da Universidade São Paulo, Felipe Pereira Loureiro, Biden vai trazer de volta temas como democracia e direitos humanos: “Uma coisa é o Brasil estar com os Estados Unidos contra, por exemplo, a União Europeia. A outra coisa é você ter os Estados Unidos e a União Europeia em um bloco cada vez mais sólido, colocando temas que vão ser muito difíceis para o Brasil ignorar”.