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Ali Klemt A volta dos que não foram

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(Foto: Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

O destino é o caminho, diz o título de um livro escrito sobre o caminho de Santiago de Compostela. Não o li (embora tenha vontade de realizar essa peregrinação), mas só conseguia pensar nessa expressão enquanto um fato inusitado ocorreu comigo ontem.

Vocês conhecem a minha vida. Veem a minha agenda lotada, a minha incessante corrida contra o tempo, até mesmo alguns ataques de ansiedade para dar conta de tudo e uma constante tentativa de equilibrar o excesso de compromissos para manter a saúde mental. Ou seja, para eu estar em um evento, é porque (1) realmente o priorizei, (2) organizei a agenda para isso e (3) nenhuma intercorrência ocorreu. Bem, os dois primeiros passos dependem de mim. O resto está além da minha capacidade de controle.

Veja, temos um limite de controle sobre nossas vidas. De controle, não: podemos fazer o máximo possível para realizar algo. Podemos fazer esforço, organizar o que for necessário, rezar para todos os deuses. Podemos fazer escova, comprar roupa nova e até mesmo preparar discurso. Podemos deixar tudo pronto, com o máximo de atenção e carinho – e devemos fazê-lo sempre diante de algo que é importante para nós. É imprescindível que jamais esqueçamos que somos, sim, responsáveis pelo que acontece conosco (“autorresponsabilidade”, um conceito que amo e em que acredito profundamente). Porém, até isso tem limite. Tudo tem limite, até mesmo o nosso poder diante dos fatos da vida.

Porto Alegre e região metropolitana foram atingidas por um ciclone extratropical essa semana. Mais de 360 mil unidades ficaram sem luz (“unidades” significa, basicamente, uma residência com uma média de 3 habitantes. Ou seja, um cálculo rápido permite concluir que mais de um milhão ficaram sem luz na capital do estado). Foi uma loucura. Uma situação realmente atípica. Força da natureza, é como diz a lei, nos casos de excludente de responsabilidade estatal.

Nada disso importou para mim e meu grupo de amigas – todas Aliadas, pertencentes a esse incrível grupo de mulheres diferenciadas que faz a diferença no mundo – que rumamos ao interior do estado, a fim de prestigiar uma amiga (também uma Aliada) muito especial. Todas mães, deixamos as famílias organizadas para nossa ausência em um sábado. Contratamos uma motorista para que pudéssemos nos divertir na festa sem preocupações. Compramos presentes. Nos arrumamos. Nos encontramos. E deu tudo errado.

O caminho estava interditado. Alagado por conta das chuvas. Mas estávamos preparadas, certas de que nos localizaríamos com toda a tecnologia à nossa disposição, enquanto conversávamos do alto dos nossos mais de 40 anos enquanto apertadas em um só carro, como se ainda tivéssemos 15. E o que deveria ser uma jornada de 60 minutos de ida, três horas de festa e mais 60 minutos de volta acabou sendo uma epopeia de andar sem rumo por estradas de terra batida, respirando cheiro de mato em áreas sem sinal de internet. Rodamos e rodamos e encontramos outros “viventes” perdidos pelo caminho. Enquanto isso, conversávamos e riamos da própria “desgraça”, porque quem tem senso de humor, coração grande e boas companhias nessa vida não pode ser infeliz.

Depois de mais de três horas buscando o destino, chegamos à conclusão que já era hora de voltar. Não atingimos nosso objetivo, que era chegar na festa. Mas conversamos sobre coisas tão bacanas (aquelas trocas que só acontecem em pequenos grupos muito especiais), descobrimos tantos cantinhos lindos, encontramos pessoas aleatórias com a mesma energia. Conseguimos prestigiar a aniversariante com um parabéns coletivo em uma encruzilhada na estrada, no meio do nada. Quem tem esse tipo de homenagem? Desbravamos lojas de botas e pasteis deliciosos. E, embora, não tenhamos chegado onde queríamos, fomos ainda mais longe.

O destino é o caminho, acredite. Ou você realmente sabe para onde está indo?

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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