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Política Abaladas, as Forças Armadas têm o desafio de retomar a confiança da população

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Na semana passada, o ministro da Defesa, José Mucio, comunicou a Lula que pretende deixar o cargo por motivos familiares. (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

As Forças Armadas ainda são a instituição em que os brasileiros mais “confiam muito”, segundo pesquisa Datafolha divulgada na semana passada. A curva do índice, no entanto, ilustra como a participação dos militares na política durante o governo Bolsonaro e as investigações da Polícia Federal (PF) sobre a suposta tentativa de golpe de Estado em 2022 mexeram com a confiança da população. O momento, avaliam estudiosos da caserna, é crítico e propício para emplacar reformas — algo que o presidente Lula não sinaliza ter vontade de fazer.

Se as investigações da PF apontam para o envolvimento de militares na trama orquestrada após a derrota de Bolsonaro em 2022, também mostram que os comandantes do Exército e da Aeronáutica teriam sido fundamentais para impedir os supostos anseios golpistas do ex-presidente. Essa dubiedade sobre o oficialato no esquema investigado contribui para atrair rejeição dos dois lados do jogo político, avalia João Roberto Martins Filho, professor da UFSCar e um dos maiores especialistas do país no pensamento político da caserna.

“Hoje vemos democratas perdendo a confiança nas Forças por causa dessas notícias todas, e ao mesmo tempo bolsonaristas insatisfeitos com elas por não terem interferido”, observa.

Popularidade em baixa

No Datafolha, 34% dizem confiar muito nos militares. Trata-se do menor percentual da série histórica, repetindo o registrado em setembro do ano passado. Ao mesmo tempo, o grupo que diz não confiar nas Forças atingiu inéditos 24%, quando se analisa a série iniciada em 2017.

O auge da popularidade foi logo no início da gestão Bolsonaro, quando atingiu 45%. À época, militares da mais alta patente haviam acabado de assumir ministérios, em movimento que consolidou a volta dos fardados ao primeiro escalão da política nacional depois de décadas afastados. Michel Temer (MDB) abriu as portas ao nomear um general — Joaquim Silva e Luna — para o Ministério da Defesa, pasta criada em 1999 por Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para aumentar o controle civil sobre as Forças. Foi Bolsonaro, contudo, quem as escancarou.

“Na medida em que os militares decidem entrar na política, entram numa área de risco, porque a política é um ambiente de conflito. No governo Bolsonaro, a imagem foi sendo desgastada por vários episódios, porque eles assumiram um protagonismo em várias posições”, afirma Martins Filho.

O Datafolha foi a campo nos dois dias anteriores à prisão do general Walter Braga Netto, o primeiro quatro estrelas a ser preso na história do regime democrático brasileiro. Ex-ministro de Bolsonaro e candidato a vice-presidente na chapa derrotada em 2022, o militar teria participado da trama golpista e tentado obter informações sobre a investigação, de acordo com a PF. A defesa dele nega.

Enquanto Lula parece avesso a colocar em curso grandes transformações nas Forças, correligionários do PT defendem propostas legislativas que tentam impor mudanças. Uma delas envolve restrições e punições a militares que decidam disputar eleições, medida que surgiu no próprio Ministério da Defesa; outra propõe uma revisão no artigo 142 da Constituição — que, para historiadores, alimenta de forma equivocada a ideia de “poder moderador” em militares bolsonaristas.

O conceito de poder moderador vem da Proclamação da República, explica o professor de História Contemporânea da UFRJ Francisco Carlos Teixeira, também notório conhecedor do pensamento político da caserna. Seria importante, diz, que a formação militar do país passasse por transformações, de modo que o papel das Forças como instituições de Estado desvinculadas da política ficasse mais cristalizado no pensamento dos oficiais.

“Existe uma doutrina da tutela militar sobre a República, baseada no fato deles acreditarem que fundaram a República e que por isso o poder moderador do imperador passou para eles. Esses currículos precisam ser refeitos”, afirma.

Na semana passada, o ministro da Defesa, José Mucio, comunicou a Lula que pretende deixar o cargo por motivos familiares. Mucio é visto por quem acompanha a área como um exemplo do perfil conciliador do petista com as Forças — diferente, por exemplo, de como era Dilma Rousseff, que mexeu no vespeiro ao criar a Comissão Nacional da Verdade. As informações são do jornal O Globo.

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https://www.osul.com.br/abaladas-as-forcas-armadas-tem-o-desafio-de-retomar-a-confianca-da-populacao/ Abaladas, as Forças Armadas têm o desafio de retomar a confiança da população 2024-12-22
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