Segunda-feira, 06 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 19 de julho de 2016
Em depoimento emocionante, a jornalista Leila Cordeiro falou sobre o marido, morto no domingo em decorrência de câncer. O casal comandou junto o “Jornal da Globo” na década de 1980.
“Amigos, há 45 dias abandonei minhas postagens aqui no Facebook para lutar na pior batalha de nossas vidas, contra um câncer inesperado que surgiu avassalador no pâncreas do Eliakim, com metástase para o fígado e vias biliares. Começava ali a guerra”, escreveu ela, dizendo que Eliakim havia solicitado que mantivesse a doença fora das redes sociais e dos jornais.
“Jamais deixei que ele perdesse a esperança, mesmo quando ele parecia perdê-la. Jamais deixei de estar ao lado dele um segundo sequer. Abandonei a minha vida para salvar a dele, ou pelo menos, tentar prolongá-la. Foram os piores 45 dias da minha vida. Parecia que um tsunami tinha passado em cima da gente”, continuou Leila na mensagem.
Com um relato quase poético, a jornalista contou os últimos momentos da vida do marido.
“Foi tudo muito rápido. Entre idas e vindas ao hospital, onde foi transferido três vezes para a UTI. Mas na última vez, ele não conseguiu voltar para casa. Neste último sábado passei o dia inteiro com ele no hospital, o que aliás era minha rotina, mas foi diferente. Senti de alguma maneira que ele estava indo embora. Tirei a aliança da mão dele que começava a ficar inchada e disse que a penduraria no meu cordão, pois mais tarde quando ele voltasse pra casa eu o pediria em casamento de novo. Infelizmente, na madrugada de domingo aconteceu o que todos nós temíamos. Ele começou a passar mal no quarto do hospital e foi logo transferido para a UTI para respirar por aparelhos. Por incrível que pareça, ele não entrou em coma, foi sedado, mas para surpresa das enfermeiras ele tentou arrancar o tubo de respiração duas vezes. Elas desesperadas colocaram de novo o equipamento mas não conseguiram sedá-lo. Aí, surgiu a dúvida se ele queria arrancar porque estava desistindo da vida ou simplesmente porque o tal tubo o estava incomodando. Não pensamos duas vezes, Ana nossa filha e eu, perguntamos a ele ainda nos seus últimos momentos de lucidez se ele queria que mantivéssemos o tubo e ele respondeu com um tímido movimento afirmativo de cabeça. Perguntamos se ele queria lutar mais pra ficar mais tempo entre nós, e ele novamente afirmou com um balanço ainda mais devagar de cabeça dizendo que sim. Por isso, o mantivemos entubado até o seu último suspiro de luta pela vida. Ali pudemos nos despedir dele. A enfermeira disse que o nosso querido estava nos ouvindo ainda. Por isso, nos demos as mãos, nossos filhos Alexandre, Frederico, Ana, Lucas e eu, e cada um se despediu dele à sua maneira. Sempre despejando sobre o nosso Eliakim todo o amor que sentimos por ele. E assim ele se foi. Ouvimos o silêncio do bip da máquina, o silêncio da vida de Eliakim Araujo, que terminou como começou, cercado de muito amor e carinho.”
Morto aos 75 anos, Eliakim Araújo foi pioneiro no jornalismo brasileiro, formando com Leila o primeiro casal a apresentar o “Jornal da Globo”, de 1986 a 1989.