A regulamentação e o reconhecimento dos eventos equestres com a aplicação efetiva das práticas de bem-estar animal em provas e seletivas são, hoje, realidades não tão distantes quanto pareciam há algum tempo. Conquistas recentes no âmbito legal mostraram que as medidas adotadas em prol da legalização foram determinantes para alcançar os atuais resultados positivos.
Para a Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), estes resultados consolidaram a certeza de que é preciso seguir incentivando permanentemente atitudes de bem-estar, reforçando a posição da entidade e agindo politicamente em defesa dos eventos da raça. Um passo importante dessa caminhada foi dado no dia dois de fevereiro, quando a Comissão Parlamentar de Inquérito dos Maus Tratos aos Animais concluiu a análise do relatório proposto pelo deputado Ricardo Trípoli, pedindo a proibição à perseguição seguida de laçadas e derrubadas de animais em rodeios. Na ocasião, foram aprovados três destaques ao texto, entre eles um que retirou do relatório o trecho que pedia a proibição desse tipo de evento.
Atenta à movimentação de entidades que defendem o bem-estar animal, a ABCCC vem fazendo a sua parte e adotando práticas que, além de garantir a segurança e a integridade de todos os envolvidos, podem também ser determinantes na manutenção da longevidade de seus eventos.
A entidade trabalha com base em seus regulamentos, cujas determinações referentes ao bem-estar são bastante rígidas e contribuem para o sucesso e a evolução crescente das suas atividades. São levados em consideração durante todos os eventos do cavalo Crioulo práticas e iniciativas como o descanso do gado, segurança no transporte, proteção na mangueira, presença de médico veterinário, estação móvel de atendimento, exame antidoping, inspeção no exame de admissão dos instrumentos e acessórios do arreamento utilizados pelo cavalo e pelo cavaleiro, além da presença de fiscais de bem-estar que auxiliam na revisão dos animais, assim como a desclassificação do cavalo caso seja constatado qualquer tipo de sangramento.
Recentemente, a ABCCC integrou um grupo de trabalho que incluiu também representantes de outras entidades de raça e o Sindicato dos Médicos Veterinários, na construção do Manual de Práticas de Bem-Estar Animal em Eventos Equestres do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Esse manual contém orientações e sugestões de medidas a serem adotadas visando o esclarecimento, a divulgação e a execução de tais práticas. Essas orientações são repassadas aos participantes das provas e divulgadas nos meios de comunicação da Associação e em material de sinalização do evento.
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Estão também previstas em regulamento penalizações em caso de excesso de ajuda, mau uso ou exigência excessiva do animal, ou ainda por qualquer movimento ou prática que coloque em risco a sua integridade física. Além disso, animais que foram retirados das provas mediante apresentação de atestado médico veterinário ficam proibidos de participar de qualquer modalidade funcional durante 30 dias.
O superintendente de Serviço de Registro Genealógico da ABCCC, Rodrigo Teixeira, afirma que o intuito das ações da entidade visando às práticas de bem estar, é o de ir ao encontro do que a sociedade brasileira clama que é a convivência harmoniosa do ser humano com os animais. “Estas medidas são importantes para salvaguardar as provas funcionais, para que possamos seguir selecionando nossos melhores indivíduos e fomentando as práticas desportivas, de lazer e de trabalho. Nosso homem do campo já tem por conduta e princípio cuidar bem do cavalo, companheiro de longas jornadas e que lhe provém o sustento e agora a entidade formalizou essas ações e estende de forma ávida a todos que ajudam a mover o ciclo da raça Crioula”, salienta.
Segundo Teixeira, existe um projeto em andamento capitaneado pela ABCCC, que consistirá em formar em cada núcleo afiliado os agentes de bem estar animal. A figura deste agente terá o papel fundamental de mapear através de formulários próprios se a estrutura dos eventos realizados pelos núcleos está de acordo com os padrões sugeridos no Manual de Boas Práticas. As informações dos agentes serão confrontadas com a dos Inspetores Técnicos designados e o Setor de Eventos da entidade é quem fará um ranking baseado exclusivamente neste quesito.
Teixeira explica que a ideia é premiar os vencedores com o Selo de Qualidade em Bem Estar Animal junto à cerimônia de premiação da Expointer, onde receberão da diretoria da entidade esta distinção, bem como alguns prêmios que ainda estão em estudos. “Precisamos dar visibilidade e distinção a estas organizações que estão mais evoluídas, servindo assim o bom exemplo como uma prática ao alcance de todos. Esta capilarização das práticas de Bem Estar, é determinante para o sucesso e perpetuação destas ações, que vieram para ficar e cada vez farão mais parte de nosso cotidiano”, garante Teixeira.