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Política A Abin e a Polícia Federal vivem crise com suspeitas mútuas nos bastidores. Atual diretoria tenta evitar demissões por suposta proteção a esquema de espionagem ilegal

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Operação amplia pressão sobre a Abin e expõe desavenças com a Polícia Federal. (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)

As suspeitas de que integrantes da Agência Brasileira de Inteligência atuaram para atrapalhar as investigações da Polícia Federal sobre um suposto esquema de monitoramento clandestino de autoridades reabriram uma crise entre as duas instituições e colocaram em xeque a permanência do número 2 da Abin, Alessandro Moretti. De acordo com a PF, ele comandou uma reunião com servidores em que afirmou que a apuração policial tinha cunho político e que “iria passar”. Nos bastidores, porém, membros da agência sustentam que a Polícia Federal está distorcendo fatos.

No relatório enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a PF diz que “as ações realizadas pela alta gestão da Abin se mostram prejudiciais à investigação”. Segundo a polícia, depoimentos de integrantes da agência indicam que a “DG”, referência à Diretoria-Geral do órgão (departamento em que Alessandro Moretti está lotado), teria convencido de que “há apoio lá de cima”. Não há detalhes a quem os servidores estavam se referindo.

A Abin nega qualquer irregularidade e diz que está colaborando com as apurações desde o início. Internamente, a percepção é de que a PF não apresentou elemento que comprove uma tentativa de blindagem aos investigados na ação.

Gilmar e Moraes

Deflagrada pela PF, a Operação Vigilância Aproximada encontrou indícios de que servidores da agência monitoraram os ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, assim como o então governador do Ceará e atual ministro da Educação, Camilo Santana, e até a promotora Simone Sibilio, que era responsável pela apuração do assassinato da vereadores Marielle Franco (PSOL). A suposta arapongagem ocorreu durante a gestão do ex-diretor-geral Alexandre Ramagem (PL-RJ), atual deputado federal e pré-candidato à Prefeitura do Rio.

A investigação da PF foi aberta no ano passado a partir de uma reportagem em que revelou que a Abin utilizou o software “FirstMile” para monitorar brasileiros sem autorização judicial.

Após a operação, setores do PT passaram a defender nos bastidores uma mudança no comando da Abin. Segundo pessoas que conversaram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas últimas horas, a permanência de Moretti, atual diretor-adjunto do órgão, está se tornando cada vez mais insustentável. A decisão sobre sua possível exoneração, entretanto, ainda não foi tomada. Ele já era visto com desconfiança por ter trabalhado com o ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro Anderson Torres. Mas o seu nome foi afiançado pelo atual chefe da agência, Luiz Fernando Corrêa.

Procurado, Moretti disse que está de férias e não pode falar. Corrêa não respondeu aos contatos. A PF, por sua vez, não quis comentar.

Uma mudança na cúpula da agência, contudo, divide opiniões no governo e até mesmo entre membros do PT. Homem de confiança do presidente, Luiz Fernando Côrrea foi diretor-geral da Polícia Federal durante o segundo mandato de Lula e costuma despachar assuntos estratégicos no Palácio do Planalto. A sua demissão é vista com mais ceticismo, pois ainda não veio à tona qualquer prova que justificasse a sua exoneração.

O episódio que agora antagoniza Polícia Federal e Abin é mais um no histórico de fissuras entre as duas instituições. A rixa passa pela disputa por protagonismo travada pelos chefes dois dois órgãos: Luiz Fernando Corrêa e Andrei Rodrigues, diretor-geral da PF.

A relação passou a ficar mais desgastada com o avanço das investigações conduzidas por policiais federais que atingiram integrantes da agência de inteligência.

Em outubro do ano passado, o uso indevido de um programa de monitoramento da localização de celulares, a PF deflagrou uma operação na sede da Abin para coletar provas do caso. Naquela ocasião, o número 3 da agência, Paulo Maurício Fortunato, foi alvo da ação policial — e foi flagrado com U$ 171,8 mil em espécie, recursos que, segundo ele, seriam oriundos de uma “poupança”.

A pedido da PF, o ministro Alexandre de Moraes determinou o afastamento de Paulo Maurício do cargo de secretário de Planejamento e Gestão da Abin. O ex-integrante da agência de inteligência foi apontado como um dos suspeitos de operarem o sistema de espionagem da localização de celulares. Ele nega qualquer irregularidade.

Tanto a escolha de Paulo Maurício como a de Moretti foram questionadas durante a sabatina do atual chefe da Abin no Senado. Os dois nomes, porém, foram afiançados por Corrêa não só no Congresso como também para o presidente Lula.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) chegou a adiar por duas vezes a sabatina de Corrêa na comissão de Relações Exteriores, devido às escolhas dele para a diretoria da Abin, e só marcou nova data após um pedido pessoal de Lula, enquanto os dois viajavam juntos pela Europa.

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