Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 14 de janeiro de 2024
“O importante é que nós foquemos um pouco mais, nos preparemos um pouco mais, que estejamos muito mais determinados.” A frase, dita pelo Dorival Júnior na sua apresentação como o novo técnico da Seleção Brasileira masculina de futebol, é só um exemplo característico do seu jeito de falar: cheio de verbos no presente do subjuntivo.
Essa particularidade de Dorival não passa batida nas redes sociais. Torcedores e internautas reparam nisso e elogiam o uso correto desse tempo verbal – especialmente por não ser tão usado no dia a dia.
Geralmente, as pessoas falam de uma maneira mais coloquial (quando nem sempre a norma culta é respeitada) ou optam por tempos verbais mais comuns – mesmo em contextos formais.
“O que causa espanto é o uso do presente do subjuntivo na primeira pessoa do plural, que é o ‘nós’, o que é muito difícil, porque normalmente substituímos essa pessoa pelo ‘a gente'”, explica Ávila Oliveira, professor de português.
Mas e você: sabe usar o presente do subjuntivo corretamente?
Presente do subjuntivo
Para começar, é preciso lembrar que o subjuntivo é uma flexão verbal (ou seja, uma variação do verbo) associada a algo incerto ou que ainda não aconteceu. Esse tempo verbal é normalmente utilizado para expressar ordem, desejo, dúvida ou sentimento.
Portanto, o presente do subjuntivo é um tempo verbal que indica uma possibilidade, uma hipótese, uma incerteza, no momento presente.
– Desejo que nós realizemos nossos sonhos.
– Espero que venhamos aqui mais vezes.
– Torço para que consigamos passar de ano.
– Tomara que possamos ir ao cinema no fim de semana.
– Quero que sigamos nesse rumo.
A flexão do verbo acontece em todas as pessoas do plural e do singular (eu, tu, ele, nós, vós, eles), e é na primeira pessoa do plural que o estranhamento mais acontece.
“No dia a dia, quase não utilizamos mais o ‘nós’ para conjugar verbos. O ‘a gente’ tomou esse lugar e, quando ele é utilizado, os verbos ficam flexionados no singular”, afirma o professor. Por isso, segundo Átila, os espectadores podem ter estranhado quando Dorival Júnior disse: “É isso que eu espero que alcancemos ao longo desses anos”, e não: “É isso que eu espero que a gente alcance ao longo desses anos”, por exemplo.
Norma culta é a única maneira correta de falar? Não! “O principal objetivo da língua é comunicar, e isso precisa ser feito de maneira efetiva. Se o ouvinte não entende palavras mais rebuscadas, o interlocutor pode e deve usar termos e uma maneira de falar mais simples que torne a comunicação eficaz”.
Para Ávila Oliveira, a norma culta não deve ser considerada como a única forma correta de falar, nem a maneira coloquial deve ser resumida a falar errado. Segundo ele, tudo depende do contexto, do que, como e com quem se fala.
“Pode causar estranhamento falar de maneira informal durante a apresentação de um seminário acadêmico, da mesma maneira que é estranho falar formalmente em um bar com os amigos”, explica o professor.