Esse mês de abril foi absolutamente atípico, do ponto de vista climático, aqui na Capital dos gaúchos. As temperaturas, acima da média para o período, foram boas aliadas para que, mesmo com a entrada do outono, fossemos brindados com mais alguns dias de boas condições para a prática de exercícios físicos.
Somado a este fato, desde que começamos neste espaço as conversas para propor uma cidade mais saudável, venho recebendo comentários, sugestões para temas e até mesmo propostas, para que juntos possamos construir uma alternativa viável para melhor ocupar o espaço público, por meio de condutas mais saudáveis.
Neste processo, foram-me apresentadas referências e sugestões dos mais diversos moldes, considerando cidades de grande porte, passando por propostas de abertura de parcerias público privadas, assim como referências a pequenas cidades, que poderiam ser emuladas para que se tivesse sucesso em maior escala.
Neste contexto, muito me agradam as ponderações de Jane Jacobs. Norte-americana, radicada no Canadá, falecida em 2006 e autora de provocantes colocações sobre as ocupações de espaços dentro da cidade. Posso afirmar que a sua grande obra (“The Death and Life of Great American Cities”, de 1961) surge como uma das grandes etnografias do período.
Embora se faça necessário pensar o contexto da época e de forma a relevar considerações da autora, uma das suas mais fortes afirmações (“o caos urbano – ordem rica e complexa – foi sufocado pela ordem mecânica, redutiva, frívola”) me sugere uma analogia com o inverno e, por isso, o meu prólogo citando esta onda de calor e astral renovado na cidade, mesmo durante o outono, que nos faz aumentar o otimismo na busca de uma vida saudável.
Jane, em certa passagem, afirma, ainda, que uma cidade se consolida pelo reconhecimento de sua microestrutura, em detrimento de uma macro. Se faz não tanto por sua abrangente aparência, mas pelas pequenas partes que dela se faz todo dia.
Com este prosseguimento das temperaturas elevadas, percebo mais pessoas pelas ruas, com roupas de práticas esportivas, com mais disposição. E posso claramente afirmar que existe um aumento do número de praticantes de exercícios físicos.
Porto Alegre possui aproximadamente 400 estabelecimentos registrados para a prática de exercícios físicos. Alguns deles próximos a parques e praças. Com frequência cada vez maior, vejo pessoas usando os espaços públicos como forma de complemento ao treinamento indoor, seja no aquecimento ou, ao final do treino, como forma de relaxamento.
Assim como Jane, acredito que esses pequenos momentos são fundamentais para o contexto da cidade e tem sido muito bom poder presenciar esse verão mais alongado e com sujeitos mais ativos na nossa cidade. Que o calor siga nos acompanhando e que, mesmo depois que ele se for, o espírito da prática esportiva permaneça.
Bruno de Castro Xavier — Mestre em Reabilitação e Inclusão