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Ação do Hamas põe governo e PT na defensiva e reacende polarização

Exame ocorreu na unidade do Hospital Sírio Libanês, em Brasília. (Foto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil)

A ofensiva do grupo fundamentalista islâmico Hamas contra Israel inflamou a polarização política no Brasil, gerou divisões no PT e na esquerda e deixou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na defensiva. Embora Lula tenha condenado “os ataques terroristas realizados contra civis”, há nos círculos político e diplomático cobranças por um posicionamento mais enfático do governo federal e do chefe do Executivo contra a organização muçulmana sunita que age em território palestino.

A guerra na região da Faixa de Gaza provocou ampla mobilização de cunho político na internet no Brasil, com marcado protagonismo da direita. Parlamentares de oposição geraram mais engajamento nas redes sociais, conforme levantamento da FGV Comunicação Rio, que analisou quase 800 mil posts do debate sobre o conflito, no X (antigo Twitter), no Facebook e no Instagram, de 7 a 10 de outubro.

Simpatizante da causa palestina, o PT é confrontado por posições históricas e pela hesitação em tratar o Hamas como grupo terrorista. A defesa do partido para a região é de uma política de “dois Estados, duas nações”, nos moldes dos acordos de paz de Oslo – firmados na Noruega, em 1993, entre o governo israelense e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP).

Na última década, o partido de Lula emitiu diversas notas condenando o que chamou de “ocupação e colonização israelense” de território palestino. Desde que o Hamas cometeu os atentados, petistas têm optado por ressaltar preocupações com “a escalada de violência envolvendo palestinos e israelenses”. A nota oficial do PT, publicada no sábado, não cita o Hamas nem os atos de terrorismo praticados. Os comunicados de pesar divulgados pelo Itamaraty sobre os assassinatos dos brasileiros Ranani Nidejelski Glazer e Bruna Valeanu também não mencionavam o grupo terrorista.

Lula, por sua vez, foi explícito ao condenar o terrorismo na primeira publicação após o ataque ao Estado judeu. “Fiquei chocado com os ataques terroristas realizados contra civis em Israel, que causaram numerosas vítimas”, escreveu o presidente, sem mencionar, porém, o autor do ataque. A última publicação de Lula sobre o tema, feita na terça-feira, é um apelo em defesa das crianças palestinas e israelenses.

Após os atentados, o assessor de assuntos internacionais da Presidência, Celso Amorim, condenou os ataques, mas disse que eram consequência da violência de Israel contra o povo palestino. “O atual conflito não um é fato isolado. Vem depois de anos e anos de tratamento discriminatório, de violências, não só na própria Faixa de Gaza, mas também na Cisjordânia”, disse ele, que foi chanceler durante os primeiros mandatos de Lula.

“Contraditória”

Poucos foram os petistas que relacionaram o Hamas ao terrorismo. Foi o caso, por exemplo, do líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini. Nas redes, o deputado começou seu posicionamento classificando os ataques do Hamas como terroristas, mas terminou afirmando que o mesmo é feito pelo Estado de Israel.

“Considero, sim, atos terroristas esses feitos pelo Hamas. Da mesma forma como considero atos terroristas de Estado o que está sendo feito agora pelo governo de Netanyahu contra a população civil da Faixa de Gaza, porque não é outra atitude se não o terrorismo que corta a água, o gás, a energia elétrica e joga bomba sobre prédios onde habita a população civil”, disse.

Em um canal afiliado ao PT, o ex-ministro José Dirceu indicou que a declaração de Lula, na qual o ataque do Hamas a Israel foi rotulado como terrorista, pode ser considerada “contraditória” com a “luta que os próprios judeus e sionistas estabeleceram na Palestina para conquistar o seu Estado”. Dirceu não mencionou diretamente o líder petista em sua resposta. “Isso não significa que possamos concordar com o alvo de civis, com reféns”, completou Dirceu.

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